sábado, 30 de janeiro de 2010

Triz.

Não satisfeita em ser acadêmica e ficar no hospital o dia inteiro, no intervalo do plantão hoje, fiz a besteira de me tornar paciente. Voltei pra casa pra almoçar e lavando a louça num barulho certeiro (Triz!) quebrei o vidro e cortei a mão direita na altura do dedão. Sangue azul espirrando, sabão lavando, água escorrendo, vidro verde quebrado, rebuliço na pia. Foi cortezinho pequeno, mas profundo e - putaqueopariu com o perdão da palavra - doloroso à beça. Como uma quase médica, socorri-me com os primeiros socorros básicos e desci pra ir pro hospital. Surpreendentemente eu não consegui dirigir. Só então reparei que eu estava um tanto quanto nervosa e pálida. Tive que chamar o pai-ambulância, que num tempo recorde resgatou minha mão direita, antes tão bela.
Muito obrigado Dr. Aleimar, cirurgião de presteza que recuperou minha mão, antes tão bela. Salve a lidocaína!
Bom, foram uns pontinhos só, mas o que me preocupa é a cicatriz. Tenho um xodó de mão desses que ninguém explica. Antibiótico e anti-inflamatório. Devo dizer, pra não faltar a ética, prescritos por mim mesma.
Dói, apesar da dormência instaurada. Parestesia clean. Quero dirigir mais tarde.
Agora, sono restaurador. Depois limpar a pia.
Cabeça a mil. Adrenalina de copo verde no sangue, correndo solta.
Pra dormir é só pensar em coisas boas.
Não pensar na cicatriz.
Não pensar na cicatriz....
Cicatriz....
Triz.

catarse Clarice.

(...) sentou-se diante do papel vazio e escreveu:
Comer
Olhar as frutas na feira
Ver cara de gente
Ter amor
Ter ódio
Ter o que não se sabe e sentir um sofrimento intolerável
Esperar o amado com impaciência
Mar
Entrar no mar
Comprar um maiô novo
Fazer café
Olhar os objetos
Ouvir música
Mãos dadas
Irritação
Ter razão
Não ter razão e sucumbir ao outro que reivindica
Ser perdoada da vaidade de viver
Ser mulher
Dignificar-se
Rir do absurdo de minha condição
Não ter escolha
Ter escolha
Adormecer

Depois dessa lista ela continuava a não saber quem ela era, mas sabia o número indefinido de coisas que podia fazer (...)

(Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

'Só tende a piorar' me disseram.

Tenho visto muita luta ultimamente. Mães que suportam tudo com uma força incrível para acompanhar seus filhos num caminho tortuoso e incerto de algumas doenças. Filhos que abdicam a vida para viver em função de seus pais. Tenho visto crianças mais fortes que eu. Tenho visto olhos inacreditavelmente saudáveis em corpos estuporados. Brincadeiras, sorrisos em momentos de dor e aflição. E depois de ver isso tudo acredito mais ainda no tal sopro de vida. Este sim, move. Dá asas. Faz crescer. Dá força. Fazer pensar irremediavelmente que amanhã vai ser melhor. E será, sempre será melhor.

Nada tende a piorar. Só a cabeça da gente que tende a ficar a cada dia menos crente na vida.
Precisamos exercitar a vida e a crença nas pessoas. Há muito tempo temos deixado de acreditar no mundo por motivos óbvios que nos encaram todos os dias em todos os comunicantes eletrônicos, sonoros, falantes. Vivemos numa época de descrença. Eu faço força pra acreditar a cada dia que amanhã vai melhorar, vai superar. Faço força pra tirar tudo de bom que posso a cada momento, de cada pessoa, de cada matéria. Não é apologia ao otimismo feérico. Não é positivismo chato e exacerbado. É esperança. E só.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

segunda-feira laranja.

Barra Mansa está laranja. Volta Redonda também. Tem barro em todas as ruas, calçadas, passarelas, pontes e viadutos. Tem barro nas escadas e nos portões. Fui agora para a faculdade e a viagem se tornou uma expedição. Quase um rally. Triste ver tudo caído, caindo, cedendo e cedido. Cheguei em Três Poços e não houve atendimento devido à chuva. A comunidade está alarmada. Barro nas casas. Água nas garagens. Não há previsão pra atendimento à tarde. Os pacientes precisam cuidar da moradia antes de cuidar da própria saúde. Se não se mora, não se vive bem. E saúde também é morada. Saúde é bem estar físico (corpo, organismo), mental e físico (arquitetura, cimento). Como promotora de saúde queria mesmo era reconstruir tudo isso que cai, que é destruído, que despenca. Os corpos a gente trata com remédio e bate-papo. O concreto a gente trata com o quê?
A previsão para hoje em todo o estado é de chuva novamente. Em Resende há notícias de que as comportas serão abertas. Barra Mansa vai virar água se isso acontecer. Volta Redonda vai virar rio. E ao invés de rally, vou participar de uma grande procissão à remo.
Hoje só dá pra torcer para que o sol venha secar logo a laranjada grossa das ruas. Que o vento leve logo as nuvens pra longe. E que o tempo, só ele mesmo, faça a recomposição das decepções, das dores e dos telhados vazios.

domingo, 24 de janeiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

shhh....é segredo ainda.

Segredo é pra guardar. Guardar na cabeça e no coração. Tem segredo que se conta. Tem aquele que se esconde por si só. Tem segredo grande e tem pequeno. Segredo pequeno é sussurro de criança. Segredo grande é zíper na boca. Nem se pensa. Segredo velho é o melhor, porque ta cansado já. Segredo novo é um perigo. Fica louco pra ser contado. A gente troca segredo todo o tempo. Às vezes só de olhar já dá pra descobrir o segredo de alguém. Às vezes só de olhar já dá pra contar um segredo pra alguém. Segredo é repuxo de maré. Segura todo mundo, só sai quem quer. Segredo segredado no ouvido é mais gostoso. É valioso. Segredo lido e descoberto é surpresa com confete. Segredo de fundo de saco. Segredo com laço vermelho. Segredo discreto. Segredo espalhafatoso. Às vezes chama tanta atenção que deixa de ser segredo, vira informação. Segredo que é segredo mesmo, é perfumado. Fica debaixo do travesseiro.

Tem segredo que é só nosso. De uma pessoa só.
Tem segredo que é de um monte de gente.
Tem segredo que é só de dois.
Dois corações guardam segredo sempre.
Duas solidões viram uma só, segredando emoção.
Tem gente que guarda bem um segredo. Só conta pra amigo.
Tem gente que publica segredo no jornal.
Tem gente que tem segredo e nem sabe.
Tem gente que esquece.
Tem gente que só tem um.
Tem gente que tem vários.
Tem gente que tem um amigo pra cada segredo.
E tem aqueles que tem um segredo pra cada amigo.

Mas segredo é igual brisa de mar, sempre sopra em alguém.
Tem é que saber guardar.

Shhhh......é segredo.

Eu tenho um segredo novo que guardo no soutien. Dá medo de pensar que podem descobri-lo onde ele está. Dá vergonha de falar e rirem por ele estar lá. Dá tristeza funda no peito de pensar em esconder e não mostrar.
Guardo amarrado com fita vermelha de paixão. Todos os dias rego com imagens da minha mente vã. Arco-íris encurvado, mar verde e gelado, castelo abandonado.
Ele anda crescendo. A cada dia ocupa mais espaço em mim. Seguro firme pra ele não sair. Mas por favor, não conta pra ninguém, porque é segredo.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

vamos por partes....post em tópicos. Assim a gente se entende.

- a semana foi maravilhosa. Salve a sexta-feira !

- aos amigos de jaleco, sinto-me aérea com aquela aura infantil que não me larga. Me persegue, me leva, me joga, me faz melhor.

- aos amigos do Coletivo, meu corpo dói, minha mente cala, minha alma canta.

- preciso renovar minha identidade, desde 2006 vencida. Shame on you, Jessica.

- tenho dois quadros pra pendurar na parede. Tô em dúvida se vai ficar bom.

- agora escrevo em tópicos porque ta difícil organizar o pensamento.

- vejo céu azul onde não tem.

- tenho saudade de quem está longe. Mas a pior é a de quem está perto.

- Não acho as pilhas da minha máquina fotográfica.

- hoje preciso estar no mundo. Comecei o dia do lado de fora dele, e me vi com ele assim, me olhando de lado como que perguntando: "vai entrar não? não tenho o dia todo!"

- hoje quero pipoca, filme, teatro, música, fome e amor.

- quem é que não quer amor todo dia?

- Zana, profissionalismo a gente traz dentro da bolsa. Nem precisa citar. Amigo a gente traz dentro do peito. Nem precisa dizer.

- Shibill, o terror da mulecada, cruzou comigo na rua hoje de manhã: saia amarela brilhante, brinco de strass. É só falar que ela aparece. Juro! Uma gata!

- É marinheiro.....quem te ensinou a nadar? Foi o tombo do navio ou o balanço do mar?

- E pra todos que me criticam (ou invejam) : vão todos se foucault!

- Salve a sexta- feira!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

debaixo de uma sacada.

"Pior que o melhor de dois. Melhor do que sofrer depois. Se é isso que me tem o certo. A moça de sorriso aberto. Ingênua de vestido assusta. Afasta-me do ego imposto. Ouvinte claro, brilho no rosto. Abandonada por falta de gosto. Agora sei, não mais reclama. Pois dores são incapazes. E pobres desses rapazes que tentam lhe fazer feliz. Escolha feita, inconsciente. De coração não mais roubado. Homem feliz, mulher carente. A linda rosa perdeu pro cravo."


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

em dias de chuva...

Em dias de chuva não me dá vontade de fumar. Em dias de fumo não me dá vontade de chorar.Em dias de choro não me dá vontade de sorrir.Em dias de riso não me dá vontade de partir. Em dias de partida não me dá vontade de largar. Em dias de largada não me dá vontade de correr. Em dias de corrida não me dá vontade de parar. Mas paro em dias que tenho você. Fumo quando te perco. Corro pra te ver. Sorriso aberto ao te encontrar. Choro ao te ver partir. Largo porque não dá pra te ter aqui.

domingo, 17 de janeiro de 2010

À Jana

Traz nas mãos uma firmesa feminina que a faz mais bela. Fala forte porque sabe muito. Brilho que traz no olhar, verde, azul, lilás, leve e livre. Sua candura a cada foco vira poesia, mágica, arco-íris.
Tu, amiga, trouxe paz pra cá. Volta pra onde deveis viver. Iluminada.
Eu estou com você em pensamento. Meu coração tem uma parte que é tua. E essa parte hoje brilha e bate mais forte, independente. Tu estás aqui comigo também. E pra sempre.

Marzão.

"Voltei hoje do Rio. Lembra que eu te disse que fui pra poder ficar com uma amiga que estava no hospital? Pois então, estive com ela o fim de semana inteiro. Hoje de manhã eu resolvi ir pra praia, arejar e começar a pensar, porque tudo começa de novo e meu corpo já está dando limites às ações. Em frente ao marzão de meu Deus recebi uma ligação que me afundou. Afoguei na beira da praia. A Janaína foi embora. Por dentro ta tudo muito triste ainda. Acho que demora pra passar. Aí essa coisa de pensar e não pensar e tudo o mais que você me escreveu já não me serve. Nessa hora pensar com o corpo ou com a cabeça me gera circunvolunções involuntárias intestinais. Nessa hora só dá pra sentir mesmo e mais nada."

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

quarenta minutos pensando com o corpo.

Corpo clamando vida. Vida extra-pensante.
Pés e sola, rota de tudo que está por vir.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

de repente meu corpo ficou estático.

Estática. Energia dinâmica indiscutível. Incompreensível se não sentida assim por fora, por dentro e em todas as faces que o corpo permitir. Cabelo arredio. Pêlo arrepiado sem estar em pé. Pêlo arrepiado guardado e trancado lá dentro do poro. Vermelho fogo lançado a mil acima do chão, queimando a pele, mas acariciando a alma. Pensar até dá pra deixar pra lá. Sentir não. Sinto um pulso diferente, sedutor, serpente lisa passando de baixo pra cima, levando poeira e estalos dos ossos e superfícies duras, rígidas, rochas. Tudo pulsa. Reflete na frente, na face, no rosto, na cara, que translúcida de suor, mescla lágrimas internas, choros abafados e dor contida. Tudo com olhos que se fecham e mantem a escuridão perfeita pra pintar o choque perfeito do movimento com o não movimento. É a imagem que não se cria e assim se faz crível e forte. Dá força pra tensão, que contrariando a tendência de ser pesada, faz-se firme e leve na precisão das ações encomendadas, abraçadas, feitas, refeitas e mantidas.

Posto fim na dinâmica, não me movi. Não queria perder isso tudo. Mas já se esvaiu. A exaustão do meu corpo não me permite retomar em casa nenhuma ação. Meus pés doem. Minha mente pulsa (por inúmeros motivos) e meu coração bate fazendo levitar cada militro de sangue dentro dos meus vasos. Resultado bom, que tira vício corporal chato e me faz sentir mais do que pensar.
De repente quero que meu corpo fique estático o tempo todo.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

rastro.

Sinto que meu corpo está mais leve, mais preciso. Sinto pele firme, seca, nua. Agarro pelos cabelos o presente, que me presenteia com olhos passivos, mãos quentes, dedicatórias, declarações, agradecimentos e prazer. Puxo com força essa alegria espessa como se tragasse a fumaça mais leve que a natureza pode me dar. Calo, deixo à parte toda a dor e a confusão que me povoa. Às vezes sinto saudade de um passado inquieto. Não ligo, não. Hoje em dia, quem não sente saudade, não é mesmo? Gosto de apreciar meus passos delgados e feios em qualquer areia. Sempre vou deixando um rastro próprio, uma linha marcada com o dedão. Difícil de explicar, mas fica bom. Quem sabe me acha em qualuqer praia, duna ou terreiro. Estou aprendendo a fazer isso agora não só na areia como na vida. O tempo todo. Vou deixando rastro por aí. Marco o presente pra num futuro próximo o passado vir me cobrar. E eu cedo à felicidade. Abro mão de uma montanha de compromissos só pra rastrear, me encontrar e ser feliz. Como hoje. Como ontem. Como amanhã.

sem graça.

O dia ontem foi carregado de trabalho, calor, comemoração, chuva sem vergonha e cama boa.
Se todas as segundas-feiras fossem assim muita coisa seria mais fácil. Ou menos difícil.
Hoje estou sem graça.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

i´m always waiting for the man i love

"He'll look at me and smile,
I'll understand
Then in a little while,
He'll take my hand
And though it seems absurd
I know we both won't say a word"

(ps: dedicado pra aquele que vai recomeçar o inglês amanhã.)

domingo, 10 de janeiro de 2010

num dia de calor.

É que de repente, num dia de calor, a vida despencou sobre mim.
As luzes de natal poderiam ficar acesas por todo o ano. Assim elas alimentam a esperança que as vezes se esvai. Crescer dói. Machuca. Corta. Sangra. A solidão é mãe. Descobrir-se faz parte do caminho. Dá pra escolher as companhias. Dá pra selecionar o que se quer levar. É conversando que se entende. Mas é entendendo que se cala. E a omissão é um parto silencioso. Nada como o tempo. De vez em quando fingir não faz mal. Mentira também é moral. Crime é maltratar, é maldizer, é fazer sofrer. Felicidade é um bem. Cultiva-se. Molha todo dia, tira as pragas, põe adubo. Essa coisa de colher o que se planta é verdade pura. Absoluta na calmaria de ser o que se é. Quando se é fica tudo mais fácil. Mas se ser sozinho é um pecado. Ninguém se sente, se descobre sem o outro. Pra se ser é preciso toda uma multidão. Um companheiro pra vida toda saberia dizer e entender a vida. Saberia abraçar a dor e a mágoa. Saberia sorrir com lágrima perante o sucesso aflito. Saberia beijar olhos fechados. Saberia fechar os olhos para o incômodo.
Uma multidão na vida traz cada um seu pouquinho. E com um pouquinho de cada um forma-se o ser. E aí, num dia de calor, eu me dei conta de que sou multidão. E multidão é vida. E ela despencou em cima de mim.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

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- o bom é ser feliz e mais nada.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Desvio.

Viramos o ano em Angra. Estive fora cinco maravilhosos dias. Perto de pessoas que amo muito. Estive perdendo a prática da escrita. Como não escrevi, pensei pouco, senti muito. Pensei o suficiente, senti demais.
Todas as maravilhas sentidas assim dentro de mim entraram em confronto com o desastre que ocorria do lado de fora, na cidade. Paradoxo. Tudo estava bem, mas tudo ao redor não estava. A estrada foi interditada. Caíram barreiras acima do lugar onde estávamos e abaixo também. Só havia saída para cidade pelo mar ou pelo ar. A luz acabou. Ficamos sem comunicação porque as baterias de celulares não duraram muito tempo. Conseguimos um barco para ir até a cidade buscar comida e gelo. Nos supermercados não havia mais velas, água sem gás, cigarros, nem pilhas. Tudo estava sendo consumido pelos turistas mais endinheirados que chegaram primeiro. Tudo isso aconteceu logo no primeiro dia. Nos seguintes vivemos bem (muito bem) um naturalismo forçado. Lanternas, isopores, mosquitos e bate-papo. Aliás, uma ótima receita para 2010, o bate-papo. Resolve tudo, passa o tempo e faz crescer. Uma civilização devia se erguer assim.
Deu tudo certo, enfim, graças! A estrada só foi liberada hoje, aí voltamos. A destruição ao redor foi aterrorizante. Só meia pista sobrou. Casas, postes, pontos de ônibus, pessoas foram levadas com a encosta. Uma pedra maior que nosso fusca despencou ao lado de uma escola bloqueando tudo. Passamos por um desvio. Toda a rede elétrica estava no chão. Ao longe dava pra ver a encosta livre do morro. Lisa, barrenta, cedida, cobrindo destroços televisivos. Nunca achei que fosse ver isso de perto.
Viemos.
Aqui, com a luz e o cigarro acesos respiramos a verdadeira situação de onde estávamos. No jornal está passando tudo. No total, até agora, foram 72 mortes. Eu lá não sabia do perigo, da catástrofe, da lágrima da cidade. Eu só sabia da praia, do sol pós-temporal, do carinho guardado no peito, dos projetos para o novo ano e do amor no meu ombro. Eu não via essa dor em massa, esse desespero público. Eu não via nada fora. Sabia dos acontecimentos, mas não das imagens, que marcam minha memória.
Lá eu desejava mil oportunidades para o novo ano.
Aqui, agora, só desejo calmaria.



ps: A todos os trabalhadores da Vila Velha, principalmente o pessoal do Lixo, parabéns pelo serviço. Obrigada.