sábado, 17 de maio de 2014

sobre deixar o cabelo crescer ou uma declaração para Suzana.

Esquentei. E igual Suzana falou, enfiei a lua na minha cabeça, só que lá do mar Suzi, estou fora de cobertura, não deu pra subir nela. Deu certo. O que Suzana fala e não dá certo, né? E com toda a lua dentro, fui obrigada a assistir o nascer e o pôr do sol todo dia. E acumular essa dor da eterna despedida. Da volta toda que a gente dá pra ver nascer de novo. E cada lágrima que a lua deixa vira uma gota de mar perspirando pela pele. Pés sujos sim de areia. Cacheei e a coragem despistou a careca tremeluzente que olhava pra mim tentando me convencer de que as pessoas mais inteligentes são mais fáceis de hipnotizar. Sentei por dias numa cadeira de rede. Fiquei marcada nas pernas, virilhas, glúteos, pelve, alma tal qual calcinha apertada. Interpretei o horizonte e tive certeza de que escolha é algo que a gente faz mesmo e não um truque de personalidade. Da mesma maneira que alguém escolhe não atender quando ligo, passando por cima de tudo que culturalmente, machistamente, seria derivado de um censo comum. Escolha apenas. Sem pré-definição genética. Sem acréscimo da maré ou da astrologia aplicada. 
Subi correndo o elevador, pelas paredes. E agora, cresço e mínguo a cada semana, num ciclo ritmado. Contrasto o abstrato da expansão corporal da presença que tenho com o concreto daquela barba que num efêmero momento me arranhou. 
Escolhi todos os passos para me fazer lua. Não venha me dizer que não escolhi ser arranhada também.

Suzi, sem você meu cabelo não estaria tão grande.  

quarta-feira, 14 de maio de 2014

to hold you I space.

(para ser lido ao som de Tom Hanreich, My one and only love)

                  sinto sua falta tão interna mente em mim que chega tal qual jazz com whisky cigarro fumaça e uma melodia cansada de ser. tem um vazio diferente daqueles de clichê de amor romântico. tem um buraco distante de mim por dentro chegando até o outro lado de mim. por mim sem mim sem virgula esperança ou dor. é só um espaço. e crua desnudada intensa. escrevo como se fosse para outros. braços pernas ouvidos e língulas. todos cheios desse espaço de você que são os outros. preenchi mento. perco a caligrafia. meu corpo responde a vida como quem vai pra não perder a hora. traço distancias. todas retas. uma hora quem sabe encontram a si num horizonte cálido. eu não choro. eu transbordo. e se é que isso existe eu ainda. 


terça-feira, 13 de maio de 2014

sem certezas.

Escutar sua voz é um abismo de lembranças claras. É um monte alto estruturado numa sã certeza de que sua voz imanta uma risada dentro de mim. Seus olhos, que agora não vejo, leem pelo telefone o meu corpo e o desenho que eu faço com as mãos enquanto falo pra você sobre as coisas que eu invento só pra saber que você faz isso. Minha respiração pulsa e você sabe. Te vejo caminhando rápido enquanto fala, trocando os pés pra sempre subir os degraus com o direito. Do jeito mais torto,carrega a mochila e anda mole.

E desligamos porque nossos caminhos não nos permitem (ou nos permitem que estejamos fora da área de cobertura). Sinto o seu trêmulo tchau sem certezas, tão doído por aqui. Sento, sinto-te e escrevo, mas não aguento tanto você em mim e ligo de volta. Escutar sua voz é um abismo de lembranças claras. 

(dedicado aquele cara que enjoa em ônibus e por isso disse que quer comprar um carro. Dedicado aquele cara que arruma um problema como solução.)