segunda-feira, 30 de novembro de 2009

reparação.

Porque tudo que corta, faz doer mas depois cicatriza. As bordas da ferida se reparam.

Coisas que a gente repara às vezes:

- a tristeza sempre vai além do que se pode imaginar.
- o fruto do trabalho não é o dinheiro, é a nossa utilidade no mundo.
- quando se é míope, o céu está sempre mais distante sem as lentes.
- a saudade sufoca sim, mas passa.
- as amizades são um porto.
- o amor não é só um gozo.
- a vida passa alegremente pelas ruas, todos os dias. Só que a gente nem vê.
- o sucesso não é a fama. O sucesso é reconhecimento.
- todo mundo quer mesmo é ser feliz.
- a gente nunca perde o direito de ser criança.
- nunca se deve almoçar ou jantar sozinho.
- a solidão dá medo.
- a responsabilidade dá medo.
- pesadelo dá medo.
- a água é um bem precioso.
- o amor é tudo.
- a gente colhe o que planta.
- quem semeia vento, colhe tempestade.
- aquele sorriso que as vezes não sai seria nossa salvaguarda.
- existem momentos únicos.
- existem coisas que jamais vamos entender.

E pra aqueles que estão do meu lado me fazendo reparar tudo isso, dou-lhe apelidos que preservam nossa intimidade. Moreno, que me acolhe, me acompanha e me guia. Sra Natural, que me ama. Dr. Nervoso, que me cria. Papel em branco, que me apóia. Dr. Grande, que me ensina.
Leitor, que me adivinha. Pretenses, que me abraçam e me elevam. Meninas médicas, que me alegram. Seu Sebastião, que me aceita. Dona Dorotéia, que me cura.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Agora.

Agora choveu. Bastante. Não vi direito, tava no banho. Só ouvi os trovões. A chuva já parou. Só tem agora alguns pingos mortos das canaletas. Agora, só a brisa fria secando o molhado. Agora só o céu branco e cinzento se dividindo por aí. Agora eu abro a janela e vejo um reflexo azul e rosa. Agora laranja também. Agora verde. Não é em forma de arco não. é quadrado. Entre as nuvens. Mas agora já sumiu. Agora fica a ressaca do asfalto. Fica o vidro molhado. Agora o tapete do quarto está encharcado. É que ultimamente eu tenho deixado todas as janelas abertas.

luta.

luta mascarada essa do sol com a lua.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

tópicos.

posto em tópicos:

- fui pra praia este fim de semana. Calor humano, físico, psíquico e marítimo.

- minhas manchas de limão na pele ainda não sumiram.

- não acho o documento do carro. Isso pode me trazer problemas.

- fiquei tanto tempo sem televisão que descobri que posso ficar sem ela pra sempre.

- Nadando ontem ouvi a conversa das crianças próximas em suas bóias flutuantes. Tanto me aproximei que me perdi no tempo, no espaço, no céu. Elas contavam histórias de adultos corajosos que iam ao mar pra procurar peixes grandes. Um menino comentou que se eles, crianças, fossem nadar muito no fundo poderiam nunca mais voltar. Falava sério, desmedidamente receoso. Ele provavelmente apenas repetia o que algum adulto deve ter dito a ele com intuito de não ter que salvar uma criança afogada. Mas ele repetia tão firme. Tão crente. E as crianças ouviam tão fortes, tão puras. Tantas vezes somos tachados de infantis quando fazemos manhas, pedimos atenção, choramos em público. Logo apontam e dizem: você está agindo feito criança. Quando é que se perde o direito de ser criança?

- Agora faço hora, vou na valsa, esperando minha xerox ficar pronta. Escrevo tópicos, visito sites, atendo e faço chamadas celuláricas, mas só consigo pensar mesmo no documento do meu carro. Perdido por aí.

- Ontem não fui no segundo SSB. To com saudade dos meninos. Eles ocupam um espaço danado.

- Nossa, como estou pessoal hoje.

- Sol. Essa semana promete um calor bom.

- Meus dedos do pé doem.

- Hoje quase não acordo. Dormiria três semanas.

- Deu a hora. Vou buscar a xerox.

- Será que existe plástica de pé?

- Bom dia, flor do dia.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

sorriso largo que força os olhos a sumirem do rosto

De início ela o achou sério, mas um dia eles foram extremamente simpáticos um com o outro e então eles se sentiram muito felizes, como há muito tempo não se sentiam.
Ele tinha olhos azuis, um semblante compenetrado e uma postura decisiva, ereta, bem posta. Ela tinha olhos negros, um rosto que misturava meiguice com ira e dava um resultado único. Ele era adulto.Ela estava quase lá.Eles nunca trocaram uma palavra, mas já tinham sido apresentados na aula uma vez.
Um dia eles conversaram meia conversa, trocaram meios sorrisos, tocaram-se meio de lado e olharam-se meio assim-assado. Nesse dia eles foram extremamente simpáticos um com o outro e então eles se sentiram felizes como há muito tempo não se sentiam.
Ele grande. Rosto grande. Sorriso largo que força os olhos a sumirem do rosto.
Ela média. Rosto fofo. Pouco peito. Sorriso largo que força os olhos a sumirem do rosto.
Depois da aula:
_ À tarde você ta aí?
_ Não, não. To indo viajar hoje...
_ Ih....beleza então! Tchau!
_ (sorriso largo que força os olhos a sumirem do rosto) ...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

manteiga.

Hoje eu vi uma mulher chorando. Ela chorava pra mim. Ela se apoiava em mim. Mantive a postura, o jaleco, o semblante e a mão no ombro dela. Mantive a conduta e a calma exteriorizada. Por dentro eu não sabia o que fazer. Por dentro eu só queria chorar também.

Engraçado como a gente de branco aprende a ser de pedra por fora. Só não se pode esquecer que por dentro só tem manteiga.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

a vida.


porque a vida sempre nos dá motivos.

domingo, 15 de novembro de 2009

(p)arte.

A arte que me renova. Que maquia, reluz em qualquer neblina. Arte que me remoça, coça, quebra, vence. Como um tufão me destrói. Em ruínas de lágrimas, pó, talco e suor. Que me mata a sede e me tira a vida. Arte que inspira e goza. Sente e mela o corpo, que dança. Arte que não cansa. Roda saia do menino, abre a boa da moça. Poça de óculos escuros. Nuvens de Abril. Brincadeira inocente de quem sente. Bem fazer torto pra alma, a arte. Gritos de vermelho. Bom altruísmo. Suspiro calaso seguido de tudo o mais. Gozo, morte luz, parte, perna, roupa, sorte. O0 jardim desfeito da educação sadia. O corredor de inverno roxo que não escorrega. Arte minha janela de frente pra praia. Minha dor que fica parada na maresia, no tempo escasso. Arte minha droga sem fumaça. Uma lareira escondida na neve. Arte tudo pós moderno. Arte vento leve. Um cabelo esvoaçando na colina, no batuque, na neblina. Arte que me faz falta. Na cama o que me tira o sono. Na rua o que me tira o sério. Arte que conquista, arde, bate e vai.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Figueira.


É meu pedaço de paraíso. Figueira plantada n'água salgada. Um céu inteiro pra cobrir. Pé na areia pra fugir da tristeza do lado de cá.
(agora to no blogger mesmo.)