quinta-feira, 27 de maio de 2010

dia nublado

A vida, ora essa, não passa de acontecimentos seriados. Fantásticos, drásticos, dolorosos, felizes acontecimentos. O engraçado disso é que nós, seres humanos bobos, tolos, imbecis, não sabemos viver. Seria tão simples dizer que para viver bastaria levar esses acontecimentos à frente, adiante e senti-los, dando o valor exato para cada um deles. Simplicidade a gente tenta, mas não é dela que é feita a vida. Pelo fato de sentirmos em excesso e em velocidade máxima acabamos não sabendo perceber cada acontecimento. Cada momento que deveria ser abraçado com veemência, dor, luta ou alegria, nós simplesmente deixamos passar. Hoje quem dita a vida não são esses momentos e sim os que estão por vir. Ninguém faz planos pro hoje. Ninguém espera que hoje seja um dia melhor. O futuro que já está na frente, sempre vem à frente dos nossos momentos preciosos. Ah se nós soubéssemos que o futuro nunca chega de verdade. Se nós soubéssemos valorizar nossos gestos mais minúsculos, nossos sorrisos mais discretos, nossas pequenas alegrias cotidianas o futuro estaria garantido sem nem precisarmos pensar nele. Pelo amor de Deus, parem com isso. Vamos parar de ocupar tudo com trabalho e ânsias imorais. Vamos deixar de lado grandes ambições patéticas. E por favor, não me taxem de otimista intelectual pacificadora. Eu tenho ondas de pessimismo. Tenho dores irrefutáveis. Tenho crises depressivas. Não sou o que me mostro. Mas uma coisa eu sei e não tenho vergonha de parecer vaidosa. Sei sentir. Sei perceber a vida. E me dói, como me machuca, ver que a maioria de nós não sabe, não sente, não vê.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

triângulo já é...

Geografia


Desafio




Retângulo




Amoroso


Golpe de judô



Química





Trânsito





Bilhar




Porque raios danaram de tocar ele também?



Toco triângulo como quem pula e bate os pés no ar, caindo depois num tombo esquizofrênico.
Antes fora do tom do que mudo.

***

quinta-feira, 20 de maio de 2010

inacabado.

Ixe, que de repente vem um monte de novidade junta e acabo descobrindo que gente junta, misturada, dá coisa boa à beça. E vem som e melodia alta, branca, lúcida. Discussão divertida que faz mais descoberta de admiração mútua e pouco fingida, sagaz e plana, reta. Toco triângulo como quem toca uma caixa de fósforo sem fósforo. O hit da noite se transforma de samba prum forró arretado e crio uma viagem fantástica e sóbria, cheia de cachecol, pluma, sorriso, cafuné de amigo. Da festa que saí antes, trouxe bem-casado pra todo mundo, mas não sobrou pra mim. Era casório simples, do bom e do melhor, porque não era felicidade fingida, exceto pelas fotografias recheadas de poses chatas. Mas era carinho amado mesmo. Dava pra sentir no intervalo das luzes. Depois, noite fria, abraço de lã e caronas com cheirinho de novo (porque eu adoro conhecer gente). Volante gelado, ronco namorado, edredom agarrado. Fritei ovo pra repor a vida que as vezes se esvai em tanta energia solta no salão. Respirei fundo da janela aquele cheiro de resto de noite vazia que vem e vai, vem e vai e como num relance histórico permanece na memória pra sempre e que parte dela é seletiva mesmo. Porque não dá pra guardar tudo que se tem. Não dá pra perder tudo que se ganha e nem dá pra quere buscar depois que se foi embora. Grunido pra deixar de lado o beijo marcado de notas e sons litorais que flui e as vezes parece que não tem mais. Mas tem. E sempre tem. Viagem chegando e eu buscando tio pra visita nobre. Dançando, cantando e por aí criando um novo universo de Domingo, que cabe numa sanfona ou escaleta. Ou nada, porque depois do sono pouco não tem mais garganta que cante. Só toca com sopro. Toco triângulo como um garnizé manco cacarejando pra conquistar seu puleiro. Chego rubra na doce casa quente. E aí descubro que foi dia recriado, cansado e valendo ouro. Daquela época que ouro valia mais que o próprio pulso. Só que hoje meu ouro pulsa sem valer pra fora. Só pra dentro. Quando pulso, inspiro azul, expiro verde. E vou pra rede, porque hoje a noite balança serena. E até dá pena de embarcar no descanso, porque ainda tem tanto pra vir, pra começar, pra descobrir e comemorar. Dorme singela, quero-te vida, para sonho e não para te velar.

maus-tratos.

20/05/2010 07h29 - Atualizado em 20/05/2010 08h08
Polícia investiga se criança de 4 anos foi vítima de maus-tratos
Criança deu entrada em hospital com várias lesões.Padrasto da criança foi preso em flagrante, mas nega as acusações.

A polícia e o Conselho Tutelar de Volta Redonda, no Sul do estado, investigam um possível caso de maus-tratos contra uma criança de 4 anos. O padrasto do menino foi preso, mas nega as acusações.
O garoto de 4 anos deu entrada no Hospital São João Batista, com várias lesões. Segundo médicos, ele chegou ao local com fratura na perna, contusão pulmonar e lesão intra-abdmoninal.
"Fomos acionados pela direção do hospital tendo em vista que a equipe médica achou que aquelas lesões eram atípicas para uma queda, como alegou a família. Ouvimos da própria criança que ela havia sido jogada na parede e espancada", contou o subcomandante da Guarda Municipal de Volta Redonda, Rodrigo Ibiapina.
A mãe e o padrasto disseram que ele levou um tombo, mas a equipe médica desconfiou do caso depois dos exames. "Nego essa acusação e vou provar minha inocência. Ele já estava machucado, é um menino que brinca muito", alegou o padrasto, Leilson Araújo do Espirito Santo.
Conselho tutelar quer que guarda fique com o avôO caso está sendo investigado pela delegacia de Volta Redonda. Em depoimento, a mãe contou que não sabia das agressões, mas, segundo a família, essa não é a primeira vez que a criança aparece com marcas no corpo. O delegado aguarda o resultado da perícia.
Segundo os médicos, o menino reagiu bem a uma cirurgia no intestino, mas seu estado de saúde ainda é considerado delicado. "É um caso que chocou a todos. A criança não vai voltar mais para essa mãe. Vamos indicar o avô para tomar conta", afirma o conselheiro tutelar Fábio de Carvalho.
fonte: (g1.globo.com)
*
A residente falou.
Foi então que eu soube por que a enfermaria estava tão agitada.
Depois deu até no jornal.
É cada coisa que dá no jornal.
E hoje tinha câmera filmando o pronto-socorro adulto, que não tem muito a ver com a história.
A gerente administrativa e o gerentão bam-bam-bam rondavam os leitos. Faziam pose de médicos que dão entrevista na TV em rede nacional. O jogo de cintura com a imprensa é mesmo todo deles.
Os funcionários da limpeza trocavam informações desconexas no corredor.
Os técnicos de raio X apareceram de repente por ali, pra dar uma pinta.
A plantonista da UTI também.
Curioso e solidário nessa hora é o que não falta.
Ninguém chegou perto de verdade da criança.
Só os médicos e a enfermagem. Raça danada essa. Médico porque além de peito pra agüentar o rojão, tem casca de tartaruga pra agüentar a dor. E a enfermagem porque tem que estar ali. O que seriam dos doutores se não fossem eles?
Mas aí a coisa ficou feia. E só adiantava presença mesmo, física.
Pela manhã tinha muito jaleco branco dando laudo e fazendo cara de “ é um caso complicado”. Fiquei até terminarem minhas atividades. Rezei mentalmente igual uma cristã verdadeira. Tirei minha capa de invisibilidade e fui embora triste.

Uma vez eu disse para um professor meu que estava triste por causa de um paciente. Ele disse que aquilo era ótimo. O problema seria se eu começasse a não ficar mais triste por eles.

sábado, 15 de maio de 2010

cobertor.

Quando o colchão é confortável o abraço fica devendo mais. O beijo consola a dor do dia nascendo de novo com trabalho e falta de tempo pra se ser. Mas aí é que se percebe que o menor toque é o caminho pro alívio da vida; sentimento corrompido esse o da tristeza, que não deixa ninguém ser o que sonha e não faz ninguém sonhar o que quer. Só que de lágrima o quarto já está cheio; Não se quer mais molhar desejo, rumo, anseio. Junto com o sol de inverno vem um cobertor com pé pra fora, que implora dedo junto com dedo. Amassado de deitar, ouvido ouve carinho apertado, se levanta arrastado e vai embora pra outro lugar. Como deixa pra trás pé frio e ronco mudo, deixa também coração travado, de Domingo não poder amar. O que vem se conforma porque amor longe de amor aprende a ficar. Satisfeito nunca, só de braço aberto esperando voltar.

Perdão na valsa, que vai e volta, vai e volta, vai e ...

Engraçado como a vida vai. E tanto muda que a gente pensa que não vai mudar. E tanto gira que não dá pra saber que se está a rodar. E acontece num milésimo de segundo uma existência toda e parece num sonho estranho que se passou um ano. E pra se dar conta de que o movimento permanece mesmo fora dos objetivos padrões de vida, baldes de água fria devem ser jogados, sofridos, lembrados e esquecidos. Pra sempre numa nova estação vir mais. Virem involuntátios sorrisos, bravezas, abraços e desencontros. Encontrar o tempo certo nesse tempo imparável é se ter a certeza de que tudo volta, tudo fica, tudo vai e tudo, absolutamente tudo, é seletivo na memória. Tudo é passível de esquecimento e de lembrança. Tudo é passível de perdão.