sábado, 30 de janeiro de 2010

catarse Clarice.

(...) sentou-se diante do papel vazio e escreveu:
Comer
Olhar as frutas na feira
Ver cara de gente
Ter amor
Ter ódio
Ter o que não se sabe e sentir um sofrimento intolerável
Esperar o amado com impaciência
Mar
Entrar no mar
Comprar um maiô novo
Fazer café
Olhar os objetos
Ouvir música
Mãos dadas
Irritação
Ter razão
Não ter razão e sucumbir ao outro que reivindica
Ser perdoada da vaidade de viver
Ser mulher
Dignificar-se
Rir do absurdo de minha condição
Não ter escolha
Ter escolha
Adormecer

Depois dessa lista ela continuava a não saber quem ela era, mas sabia o número indefinido de coisas que podia fazer (...)

(Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres)

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