terça-feira, 31 de maio de 2011

insínuas.

Minha beleza está em desgaste emocional paroxístico. Já não convenço. Já não me iludo. Já fico triste antes de receber notícia qualquer. Já me enciúmo e vou embora sem cumprimentar. Já desligo logo o fone pra não ter de escutar. Estou em angústia afetiva plena. (E quando é que não estou?) Já estou à espera há tanto tempo. Já estou cansada. Trocada por missa, veja só. Esquecida por brincadeiras furtivas esquizóiodes imaginárias. Nhami é doce, mas não é mole não. Tem que cozinhar, né, pra deixar no ponto, né, pra deixar leve pra poder boiar e deleitar-se em açúcar depois. Já estou me sentindo idiota. Ludibriada. Em casa alambrada de dores existenciais enquanto a vida me passa pelos olhos; da janela do terraço; da janela do quarto; de dentro do fusca; em cima do sobrado em Santana; da janela da Sala; da minha varanda; de cima do palco; no meio da rua. São meus olhos cansados revendo. Vendo um desgaste que beira a hipotermia grave. Que beira a beirada do meu pequeno coraçãozinho infantilizado cheio de ganhos secundários sem ninguém aprender com isso. E se aprende, aprende errado. Pensa errado, sente errado e depois acusado é meu pobre coraçãozinho de ser chato, chateado. Assumo. Dissimulada em sã consciência. Porque já disse isso antes. Só não assumo minha sensibilidade escondida dentro daquele bendito caderno azul, que todo mundo acha que é agenda, anotações da faculdade ou bloco de notas qualquer. Meus segredos segredados em tinta colorida, expostos fingidos de bobagem. Quem ler me revela. E se me revelar de verdade, depois me conta porque nem eu sei de mim.

Sei da dor, que já sabia antes. Sei da cor do céu que muda de manhã quando a garagem abre. Sei dos dentes brancos. Sei dos olhos amarelados. Sei no pézinho malfeito na nuca. Torta. Torto. Sei do barulho do trem e qual o trem é pra qual barulho. Porque essas coisas que eu sei a gente aprende. E não perturba. Eu sei. É constatação vivida, viva, sentida em massa. Do que eu não sei, não sinto. Só sinto falta. Eu sei que eu faço falta. Se não soubesse, estaria ainda eu como cúmplice? Dissimulada ou não. Resgatada ou não. Sorridente ou não.

Basta entrar aqui e ler. Se ler todo dia vai me codificar em letras curtas, em rimas brandas e em repetições contínuas, insínuas, insinuantes frases pra quem tiver de ser. E ver que nada faz tanto sentido quanto saber o que não se sabe e ter a sã consciência de que a simulação ou a dissimulação é uma consequência de se ser demais. E ponto final. Decifra-me ou te devoro.

domingo, 29 de maio de 2011

Xirimóia.

Zona Norte. Frio. Congela acelerador Tia Cida! Meu pai lerdo atrás. Montanhas de vias e avenidas. Trânsito. Gente. Japoneses crianças brincando no sol. Carpete. Velocidade. Luzes acesas até de manhã. Lojas vinte e quatro horas. Disk pizza, bebida, geléia e ração pra cachorro. Vestidos de festa brilhantes. Dinheiro. Dr. Zuquim. Carandiru. Metrô. Não entendo nada. To perdida. To achada. To perdida. Moço, como faço pra pegar a marginal ? Ih...a marginal? Menina, você já passou do retorno faz tempo. Avenida Paulista. Céu nublado. Parece que to em Londres. Elevador panorâmico. Ponte estrelada, estaiada, entalada, reformada, criada, nossa quanto ada. Nossa quanta gente. Nossa quanto carro. Nossa como eu sou caipira. Nossa to com medo. Perdi a hora. Perdi o anel. Perdi a coragem. Perdi o sono. Perdi o controle. Fuga pra ver caras jovens na rua escondida. Conservadorismo. Família íntegra no Domingo. Primo entrando e saindo. Saudade pouca que logo esquece. Distância. Batom vermelho. Bota. Moça, tem desse mesmo modelo de cor diferente? Nude? Não, não, essa não. Chocolate com granulado e banana. Mercadão. Gritos de oferta fresquinha o quilo. Pitanga. Parmesão. Coração. Cerveja. Mortadela. Olha pra ela rapaz, senão você perde a moça. Cuida dela! Pimenta. Linguiça com paio. Cheiro verde. Açafrão em pote em pó. Pára de ser grosso que eu páro de ser chata. Sol. Sorriso. Pêra. Morangos enormes. Xirimóia. Quê moço? Xirimóia. Setenta reais o quilo. Que gostoso. Me vê uma. Não, não, duas. Vou levar uma pra ele.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

vá-zio.

Há um vazio. Grande.


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segunda-feira, 23 de maio de 2011

febre.

Febre, calafrio. Olho lacrimejando. Coração quieto. Ainda bem, coração quando não vibra é bom, no meio do caos da quentura ardente de membro, língua, unha e tal. Cabeça doendo. Cefaléia, capricho de dondoca quando quer colo. Meu não é não, o meu é dor mesmo. Que ta incomodando à beça. Ixe, que fazia tempo que minha cabeça não incomodava concretamente. Só incomoda subjetivamente. No plano das idéias não realizadas ou sintetizadas à esmo pruma ação conjunta metafísica qualquer. Parece até que fumei maconha com esse ímpeto de doença, síndrome febril, gripe, constipação ou qualquer quadro símile. Parece que me ressuscitei de lugar que nem sabia que tinha morrido. Meus joelhos mostram uma artralgia lenta, discreta, que até parece mentira pra afastar no INSS, mas não é. É artralgia de verdade de livro. A garganta seca também faz parte da onda viajantória do meu ser abatido hoje. Funda, relata espasmos de voz, sons e gritos abafados. Dói e arde. Não posso falar. Quanto mais arder em risos desenfreados. Hoje meu riso ta contido num pentagrama de sintomas circulatórios, férteis, vibrais, vestais. Da noite pro dia, adoeço fácil por resistência baixa. E bota baixa na resistência que acha que por ser atriz pode cantar direto sem aquecer a voz e depois ter que ouvir que não sabe, que não percebe o movimento dos aquecimentos de forma ideal, decente, coisa e tal. Pois é, até parece tudo isso descanso propositado. Antes fosse, porque mentiria gritando e rindo. É verdade incontestável que incapacita quadril, bexiga e nariz, que escorre e entope cada hora um.

Do cansaço fez-se a pausa. Porque corpo não é só alma.

domingo, 22 de maio de 2011

tomando uma camomila.

Vou descansar agora um pouco pra variar o corpo. Parar a voz que de tão rouca desafia corda vocal de se impor em linha fina e frágil. Parar a cabeça que não pára de pensar. Sossegar o foco da repetição estirada em saudade, lembrança com gosto de chá de camomila e mel. Fiz gargarejo. Vesti o pijama mais quente. Já arrumei a cama. E a vontade é de deitar e permanecer até chegar a hora de não precisar mais me ser. Estou profundamente cansada. E ninguém sabe o peso que cismo em carregar nos ombros. Você, que é você, que me vê descalça e entende minha vergonha, não sabe. Você não tem idéia. Queria que soubesse, que entendesse. Que tivesse idéia. Você só vê meu físico abatido por dor de amor ou por fratura exposta pele a fora. Mas não vê o peso. Ah, o peso você não vê. Ele é mesmo invisível. Indizível. Ainda não sei como permaneço de pé. Talvez porque tenho alicerces. E , é claro, mesmo sem entender ou explicar, notícia após notícia, tenho você.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

era uma vez uma ferida e uma saudade.

"Era uma vez uma abelha que se apaixonou por um pavão.
Ela tentou muitas maneiras de se aproximar, mas tão pequena e frágil, não conseguia chamar sua atenção. O pavão, conquistador e egóico jamais iria olhá-la com tantas outras belas aves ao redor. A abelha resolveu então ferroá-lo, só assim o olhar do pavão cairia sobre ela. Esqueceu-se porém, que a ferroada levaria embora sua breve vida. (...)
Era uma vez uma abelha que se apaixonou por um pavão.
Ele terminou ferido e ela morreu de saudade."

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O trem passa lá embaixo. Na minha cabeça a cena se passa initerruptamente. No meu coração você passa. No meu caminho passam pessoas sorrindo pra mim. O frio passa pelos meus pés solitários. A idéia passa sozinha sem esforço. Saudade é dor que dá e passa. Passa em silêcio quem me vê chorando. Aqueles que não me fazem acreditar eu deixo passar. Você eu deixaria. Deixaria passar. Mas você não me deixa. Não me deixa passar. E mesmo assim você passa na minha frente indo passar em outro lugar.

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Pra aquele que sempre fica me devendo uma dança, um giro ou um passo em falso. Pra aquele que me cobre quando ninguém mais quer fazê-lo. Pra aquele que escreve poesia pra mim e publica no jornal. Pra aquele em quem eu comecei a acreditar a partir de agora.

é sempre bom saber que você me deve uma dança.

ai ai caramba.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

que maravilha.

Ainda bem que te tenho. A girar. A confundir. A me perder. E ao me encontrar.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

declaração post morten.

Você nunca dá o braço a torcer. Seus argumentos são imutáveis. Seus olhos nunca encontram os meus. Você deveria me olhar mais. Parar de ter esse medo de não me compreender. Só porque eu falo tudo? E as vezes pode até ficar parecendo outra coisa, tudo pelo seu ciúme, pela sua busca por mim. Eu que também sou doentia. Eu que não fujo dos meus pecados e aceito seus argumentos calada, possessa, lúcida. Eu que ligo inúmeras vezes até você fazer alguma besteira e decidir que nós não mais importamos. Até eu decidir que importamos sim e contrabalancear seu balanço torto embriagado. E até você sentir minhas mãos nas suas. Até eu compreender que não existem outras mãos pras minhas. Até você enxergar a distância que existe entre nosso profissionalismo barato. Até eu poder entender essa distância e rebater emoções técnicas. Até você respirar o mesmo ar do meu travesseiro. E até eu perder a noção dos dias, meses e anos por estar no seu travesseiro. E até nós dois concordarmos em algum ponto no meio dessa discordância, tudo vai ser assim: tumultuoso. Tumultuoso e maravilhosamente passional.

Se te amo é porque te amo não precisa ser amante e nem sempre sabes sê-lo.
Se te amo é porque não sei de mim e você sabe.
Se te amo é porque eu desisti de tentar mudar o que não tem mudança.
Se te amo é porque sou cafona.
E, graças (!), você também.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

há minutos atrás.

"De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás"

quarta-feira, 11 de maio de 2011

a arte de banalizar os sentimentos.

Nova teoria pra ser levada em consideração. Nova consideração pra ser levada em teoria. Nova levada pra ser considerada teoria. É a provocação do tempo da idéia de aceitar seus ids e desconsiderar qualquer tipo de falso hedonismo. E olha que eu nem comecei a falar em bipolaridade ainda, mas hoje to muito feliz.


segunda-feira, 9 de maio de 2011

quando o Bowie canta pra mim.

There's such a sad love
Deep in your eyes.
A kind of pale jewel
Open and closed
Within your eyes.
I'll place the sky
Within your eyes.

There's such a fooled heart
Beatin' so fast
In search of new dreams.
A love that will last
Within your heart.
I'll place the moon
Within your heart.

As the pain sweeps through,
Makes no sense for you.
Every thrill is gone.
Wasn't too much fun at all,
But I'll be there for you-ou-ou
As the world falls down.

Falling.
Falling in love.

I'll paint you mornings of gold.
I'll spin you Valentine evenings.
Though we're strangers 'til now,
We're choosing the path
Between the stars.
I'll leave my love
Between the stars.

As the pain sweeps through,
Makes no sense for you.
Every thrill is gone.
Wasn't too much fun at all,
But I'll be there for you-ou-ou
As the world falls down.

(David Bowie, AS the world falls down. Tema do filme The Labyrinth)

domingo, 8 de maio de 2011

pra continuar escrevendo...

porque final de domingo é enfadonho.

continuando o domingo.

Por que o elefante é cinza, grande e enrugado?

Porque se ele fosse branco, pequeno e liso seria uma aspirina.

diz.

Vai, me diz que ainda é madrugada e que eu não acordei ainda. Diz que ta longe da distância do sol nascer. Diz que eu não tenho ninguém me esperando. Diz que a minha solidão vem cheia de emoção. Vai, me diz que eu estou bem e que o tempo é uma coisa muito abstrata. Diz que as pessoas ainda vivem anestesiadas e que levantar agora não mudaria nada. Diz pra mimporque eu estou inerte pra perceber sozinha.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

lona.

Como esquecer pode ser uma maneira de encontrar. E ao fechar os olhos por te ver ir embora, no vento de uma brisa pálida qualquer, sinto-te aqui. Sinto-te comigo. Com gola incomodando, com sorriso embriagado e com cigarro na mão fica como um rei. Alçando normas prum reino que nem sei se existe, ou se existe não é pra mim. Nem nunca foi. Eu que sou egoísta o suficiente pra achar que tudo me veste, tudo me cabe, tudo me serve. Minha cama escutava meu silêncio como há tempos não ouvia. Prestava atenção na respiração leve e se assustava quando eu parecia não respirar. Minha cama companheira de badernas e sons expansivos frutos das insônias até o amanhecer. Eu, inerte. Sofrida de uma carne barata. Boba como jamais me vi antes. Minhas noites são mote pra inspiração literária abstrata, pouco descritiva. Entende quem me entende. Mas quem me entende? Per se lá se vão meus segredos. E olha que escrever assim sobre a noite não é fácil. Segredo é uma coisa difícil. Dormir sozinho é uma coisa difícil. Dormir é uma coisa difícil. Principalmente quando a minha janela me mostra uma cidade de possibilidades e promessas de alegria inebriante contrastada com pouca culpa e muito aconchego. E quando vejo, já chego do lado de fora. E a noite me cai mais uma vez confortante. O que é esse impulso que você joga em mim? Me apaixona e me deixa? E me leva pro sono que eu não tenho. E me tira o pesadelo vão pra ocupar meu sonho com tua imagem a consolar-me. Ora, que minha cabeça já não aguenta mais. Assim não pode mais. Você me servir de inspiração. Um, dois, três, sete dias seguidos! Seguimento. Acompanhamento. Ligações, mudez, cumplicidade. Não aguento mais. Me livra desse sufocamento. Me faça não mais escrever sobre você. Me faça lembrar das flores, do céu, da metafísica. Me recupera a literariedade da imaginação. Me devolve pra mim. Porque ficar assim de fora desse corpo está sendo impossível.

Não vou mais te contar minhas histórias. Porque? Porque tenho medo de você não me querer mais.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

né?

Sonhei como há muito tempo não sonhava. Deitei na cama, que só minha, nem parece, e afundei no travesseiro já baixo nos lençóis embrulhados. E senti que você me virava e me virava de novo e de cabeça pra fora da cama, ao avesso, eu pedia inutilmente pra você parar. E na minha enorme euforia de reconhecimento acidental transverso lateralizado desconfundi minha mente, antes tão cheia de verdades, num limpo e claro quadro branco. Sem mais meias verdades. Descortinamos injúrias aveludadas num protótipo de amor que começa, mas que não se encaixa nos meus parâmetros de purismo passional. E depois eu acreditei que alguma coisa surgia pra abrir uma nova passarela, ainda que embrionária, no meu coração. Logo eu que não acredito fácil nessas coisas. Nossos olhares se fixaram e houve uma constatação de que já são dois anos de constatações e de pluralidade carnal da alma. E então eu estaquei; imaginando outras coisas, desenhando meu quadro branco mental com você. Fui em outros anos, em outros lugares em outros países; fundei escolas, ganhei prêmios, fui mãe, avó e tia. Meu quadro mental estava cheio de um futuro próspero encharcado de doses de você. E em minutos me assustei tanto e tão fortemente que só me restava sair pra rua e respirar o ar que ainda me resta nesse presente. E ficamos em silêncio. Uma mudez sem graça, envergonhada e desapercebida. E nem me importei em não despedir-me adequadamente. Aliás, eu nunca me importei com isso. Dizem que os americanos não se despedem e se vão. A gente se despede, mas nunca vai embora. Né?


terça-feira, 3 de maio de 2011

ahta.

Estiveram presentes meu cachorro, o Elvis, a Dona Delícia, paciente antiga, o Gleidson, pedreiro de confiança e eu. No início da conversa a Assembléia decidiu não decidir mais nada. A reforma da arquitetura será iniciada e também o novo monte verde atrás das belas pilastras vermelhas. Cérebro em construção. Disse Elvis latindo aos prantos que não participa mais se dessa vez ele não ganhar um biscoito por isso. Delícia ficou extremamente brava e jogou seu celular pela janela. Eu não tive palavras. Elvis latiu. Gleidson ficou em silêncio durante toda a reunião, esboçando apenas um bocejo após as primeiras três horas de resoluções infundadas. No final ficou decidido que não haverá mais Assembléias e que cada um vai pro seu canto fazer o que se sabe fazer. O Elvis laterá, o Gleidson pedreirará, a Dona Delícia adoenterá e eu viverei.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

hunf.

Minha parte médica me destrói a cada dia. Minha parte humana chora. Minha parte atriz reconstrói o que caiu. É minha nova resposta pra quando ficarem me perguntando como eu consigo conciliar as coisas. Ora, veja só, nem eu sei, como é que vou explicar?