quarta-feira, 4 de maio de 2011

né?

Sonhei como há muito tempo não sonhava. Deitei na cama, que só minha, nem parece, e afundei no travesseiro já baixo nos lençóis embrulhados. E senti que você me virava e me virava de novo e de cabeça pra fora da cama, ao avesso, eu pedia inutilmente pra você parar. E na minha enorme euforia de reconhecimento acidental transverso lateralizado desconfundi minha mente, antes tão cheia de verdades, num limpo e claro quadro branco. Sem mais meias verdades. Descortinamos injúrias aveludadas num protótipo de amor que começa, mas que não se encaixa nos meus parâmetros de purismo passional. E depois eu acreditei que alguma coisa surgia pra abrir uma nova passarela, ainda que embrionária, no meu coração. Logo eu que não acredito fácil nessas coisas. Nossos olhares se fixaram e houve uma constatação de que já são dois anos de constatações e de pluralidade carnal da alma. E então eu estaquei; imaginando outras coisas, desenhando meu quadro branco mental com você. Fui em outros anos, em outros lugares em outros países; fundei escolas, ganhei prêmios, fui mãe, avó e tia. Meu quadro mental estava cheio de um futuro próspero encharcado de doses de você. E em minutos me assustei tanto e tão fortemente que só me restava sair pra rua e respirar o ar que ainda me resta nesse presente. E ficamos em silêncio. Uma mudez sem graça, envergonhada e desapercebida. E nem me importei em não despedir-me adequadamente. Aliás, eu nunca me importei com isso. Dizem que os americanos não se despedem e se vão. A gente se despede, mas nunca vai embora. Né?


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