terça-feira, 29 de junho de 2010

sábado, 26 de junho de 2010

salvar.

ih...Salve a carência execesiva! Salve o catálogo de dores! Salve o sol na nuca amargando o branco realce da pele. Salve a luz! Salve a multidão descontrolada, desesperada, colorida, emocionada. Salve os nãos, os socorros, os pedidos de amor desmedido. Salve a alegria, gozo disfarçado. Salve o perder que faz-se verde, temporal chegando na frente da janela azul. Óh tempo mesclado de prata, que só mata e descarta o asfalto dessa estrada reta. Salve a curva que não se vê e a todos destrói. Salve a saudade! Salve o dinheiro! Salve a misericórida social que só faz reviver. Salve as crianças e suas inocências puras, cruas, cegas. Salve a lua! Salve as marés! Salve minha dor indo embora naquela última sétima onda da manhã. Salve minha lágrima escorrendo e descendo errado pro pescoço encurvado que olha pra areia. Salve meu pudor engrenado sem culpa, sem mérito, sem orgulho, sem nada. Salve a minha auto-traição que se mistura na palavra e nuca deixa minha mente. Salve essa minha loucura que de branda não tem nada. Salve o mel! Salve o céu! Salve todas as drogas envenenadas e cobradas pra fazer nascer alguém que não se é. Salve o meu olho inchado de chorar. Salve a unha roída que já está. Salve o retorno esperado! Salve o beijo dos amados! Salve o novo! Salve a novidade! E por favor, me aguardem, de pedidos soltos já fiz um conto e narro sempre essa ação remota, que parece que acontece, mas nada conta. Salve minha coluna ereta, minha mente aberta, minha fúria cega! Salve esse arrependimento. Salve, porque não tem como me salvar.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

disse.

_ Preciso de alguém pra cuidar de mim.

jogar pra longe esse rosto triste que não me larga...

Resolvi tomar um banho de Chico Buarque quando cheguei em casa. Pra, quem sabe talvez, sei lá, ver se me desperta uma poesia qualquer que me faça existir de forma mais leve. Só um samba numa roda cheia de alegria disfarçada me faria jogar pra longe esse rosto triste que não me larga, não me deixa, não desgruda. Cantar baixinho na beira de um surdo batuque alto e aí ter a sensação de que ninguém te ouve e ainda assim continuar cantando com o corpo inteiro. Procurar na beira de um pandeiro a paz pro meu coração. Dançar até o dia clarear e ter a nítida sensação de que a tristeza é só poesia que precisa ser lapidada.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

tô bem abaixo do debaixo.

Tô bem debaixo pra poder subir
Tô bem de cima pra poder cair
Tô dividindo pra poder sobrar
Desperdiçando pra poder faltar
Devagarinho pra poder caber
Bem de leve pra não perdoar
Tô estudando pra saber ignorar
Eu tô aqui comendo para vomitar
Eu tô te explicando pra te confundir
Tô te confundindo pra te esclarecer
Tô iluminado pra poder cegar
Tô ficando cego pra poder guiar
Suavemente pra poder rasgar
Olho fechado pra te ver melhor
Com alegria pra poder chorar
Desesperado pra ter paciência
Carinhoso pra poder ferir
Lentamente pra não atrasar
Atrás da vida pra poder morrer
Eu tô me despedindo pra poder voltar.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

o que tenho feito e que há muito tempo não fazia.

correr de mãos dadas com quem não sabe correr.
recomeçar a ler aquele livro complicado.
fazer trabalho de power point.
manipular o jornal como se fosse revista.
dormir sem sentir no colo de alguém.
abraçar desconhecidos.
fazer atas de reuniões.
escrever à mão.
sonhar acordada.
acreditar no Brasil.
escutar tecno-trance.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

ela

E logo que desliguei o telefone me veio uma distância de mim. Ela não podia ter sido mais sutil. Fiquei dopado, atordoado com as palavras amenas e fortes. Desci correndo a escadaria contando sete andares do prédio. Nem vi qual era o porteiro de plantão. Peguei o primeiro táxi. Ele me chamou de chapa e começou a falar da copa. Perguntou sobre o último jogo, se eu sabia o resultado. Respondi que não. Mas eu sabia, era que eu não queria pensar. Não queria conversar. Se eu perdesse tudo que estava na minha cabeça não poderia convencê-la. Perderia a desculpa pro perdão. Eu não queria perder nada. Mas ali dentro do táxi eu sabia que já estava perdendo. Ele falou do Brasil e como ele não acreditava na seleção, nos novatos, no técnico. Eu pensava em como ela não iria acreditar em mim. Depois do túnel tinha uma blitz. Passamos devagar. Ele parou de falar. Assim que viramos pra praça ele começou a reclamar da polícia do Rio. Eu pensava se ela não teria saído depois de desligar o telefone. Eu disse onde era o prédio. O taxista recebeu a grana, deu o troco falando que desse ano não passava, ele voltava pra Alagoas, porque o Rio tava violento demais. Boa noite. Boa, eu respondi. Demorei pra conseguir entrar no saguão do prédio. O porteiro tava dormindo e não ouvia o interfone. Boa noite, vou na Letícia. Tirando remela ele me disse que ela tinha acabado de sair. Eu sentei no sofá. Pensei que esperar seria o ideal. Ela tava cheia de mala com a mãe e o irmão dela. Eu levantei do sofá. Fiquei perdido. Sabe pra onde ela foi? Sei não. Ela foi de carro? Foi não, ta na garagem. O senhor é o seu Marcos não é? Sou eu sim. Ô seu Marcos, a quanto tempo o senhor não aparece aqui, lembra de mim não? Sou o Tonho do cavaco. O senhor que curou minha tendinite, lembra não? Lembro sim. Já tem tempo mesmo que não apareço. E enquanto ele falava que ficou com o braço novinho depois dos remédios eu imaginava se ela foi pra casa da mãe. O Recreio era muito longe. Agradeci o Tonho que me deu um abraço quente e fiel. Disse que assim que ela voltasse daria o recado de que eu estive lá. Eu pensei que seria tarde demais. Saí a pé do prédio. fui andando até a praia. Só então reparei que eu tava de chinelo e bermuda no inverno imprevisível do Rio. No calçadão tava um frio danado. Tremi. Não sabia se era pelo frio ou pelo arrependimento. Andei até o posto três. Voltei pra pista, peguei outro taxista fanático por copa do mundo, mas que não acreditava no Brasil. Eu pensava que pra mim não iria fazer diferença se o Brasil perdesse. Eu já tinha perdido uma coisa muito mais importante que um mundial de futebol: ela.

domingo, 13 de junho de 2010

(...)

Belo horizonte. Bê agá.
Fui lá.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

depois do plantão.

Peguei o carro e saí do hospital. Trânsito terrível por causa de um acidente no meio do caminho. Casa, enfim. Telefone toca várias vezes. Atendo, nunca é pra mim. Banho quente, bem quente. Saio estéril. Visto pijama, roupa, blusa, casaco, meias e gorro. Encho minha cara de creme. Faço um prato, arroz, feijão e tomate. Fraca, me sinto plena. Encho minhas mãos de creme. Massageio o dedão do pé direito porque dói. Escovo os dentes. Se pudesse escovava até com sabão. Leio as matérias para amanhã bem rápido, passando o olho. Procuro na internet algum artigo, mas quase fecho os olhos sem querer. Escrevo no blog. Deito morna na cama fria. Cubro tudo, até o rosto. Durmo tarde pra um despertar tão cedo. Esqueço do despertador. Acordo as três da manhã, lembro do despertador. Só faltam três horas. Míseras. Intocáveis. Valiosas. Acordo com sono, com vontade de permanecer sone. Só que já é outro dia.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

cantei.

Ah, se eu aguento ouvir outro não,
Quem sabe um talvez ou um sim,
Eu mereça enfim?

domingo, 6 de junho de 2010

Preste bastante atenção

Olhe só, preste atenção, que o que vai, volta. O tempo morde os tornozelos e dá até pra sentir no osso. Veja bem, que nuvem se renova todo dia, folha cai, flor nasce e gente vem. Dá pra descobrir vida no olhar que aparece. E quando se protege vida, ela não acontece. É que não precisa de capacete, joelheira, cotoveleira, air bag pra viver. Quando cai, bate, fura, machuca mesmo e tem que machucar. Se não dói, como é que fica? E ainda no barulho do sol nascendo todo dia tem sapo. Sapo gordo que parece amigo mas só é feito pra engolir.
E tem mão que não é feita pra andar junta, mas anda ué. Porque mão sente na pele o que o coração finge que não sabe. Tem abraço que não sabe dizer, mas acolhe braço fraco, tronco envergado, joelho torto. E quando a tarde cai não é errado pensar que se está sozinho, porque sozinho sempre se está. Às vezes não dá pra entender ficar sozinho quando outra solidão te ama. E tem o amor. Ah, olhe só, preste atenção, dele não vou falar. Mas veja bem, o que vai, volta.

sábado, 5 de junho de 2010

tópicos pra motivar as idéias.

_ Dias nublados enchem minha janela.

_ Estreiamos quinta feira em Barra Mansa o novo espetáculo de rua da Sala Preta, As Viúvas de Domingos. Chuva, sol, público bom, deslizes de texto, música e saltos. Incredible experience.

_ Fiz meu primeiro plantão de sala de parto quarta feira. Cinco cesarianas e dois partos normais. Um monte de vida nova e eu achando que a minha é novidade. O que é, sim. Novidade todo dia. Isso, Suzana, é a vida acontecendo. Não precisa ficar bolada.

_ Saudade de um tempo que ainda não veio.

_ Conhecer gente nova é sempre uma gratificação. Um prazer master.

_ Engraçado pra quem me conhece superficialmente, mas eu rezo todo dia. E esses dias tenho rezado mais. Acho que a velocidade das coisas me deixa com uma fé exacerbada.

_ Sabe, as vezes a gente reclama, mas nossos pais sempre serão daquele jeito mesmo. E pai e mãe, serão sempre pai e mãe.

_ Segundo minha memória seletiva, tem uns vinte dias que não leio, assisto ou acesso um jornal. Notícias do mundo, sei pouco. Sei mais da gente daqui mesmo. É ruim isso.

_ Conciliar meus horários tem sido cada dia mais difícil.

_ Sabe que o lixo é legal? É parte descartável das nossas pequenas vidas de minutos. E quando se renova vida, se recicla lixo também.

_To com medo de entrar de férias. Já programei tanta coisa ao mesmo tempo que já to começando a desistir de ter esses dias de folga. Descansar pra quê?

_Cansaço e alegria andam juntos.

_ Meu irmão mora longe. Agora, pela primeira vez, de verdade.

_ Hoje as sete da manhã acordei pra estudar reanimação neonatal. Como já disse minha professora e agora minha mais nova mestre e exemplo de vida: "tem que pipocar, não pode ser peruá"

_ Salve os novos óculos de sol do amigo, salve a chuva que só arma e não cai, salve o chapéu do artista, salve as mãos dos doutores que fazem nascer a vida todos os dias, salve o lixo que se recicla, salve onze meses de aconchego, salve a família que abraça tudo.

_ E fim.

terça-feira, 1 de junho de 2010

disse.

A multidão é acéfala.