E logo que desliguei o telefone me veio uma distância de mim. Ela não podia ter sido mais sutil. Fiquei dopado, atordoado com as palavras amenas e fortes. Desci correndo a escadaria contando sete andares do prédio. Nem vi qual era o porteiro de plantão. Peguei o primeiro táxi. Ele me chamou de chapa e começou a falar da copa. Perguntou sobre o último jogo, se eu sabia o resultado. Respondi que não. Mas eu sabia, era que eu não queria pensar. Não queria conversar. Se eu perdesse tudo que estava na minha cabeça não poderia convencê-la. Perderia a desculpa pro perdão. Eu não queria perder nada. Mas ali dentro do táxi eu sabia que já estava perdendo. Ele falou do Brasil e como ele não acreditava na seleção, nos novatos, no técnico. Eu pensava em como ela não iria acreditar em mim. Depois do túnel tinha uma blitz. Passamos devagar. Ele parou de falar. Assim que viramos pra praça ele começou a reclamar da polícia do Rio. Eu pensava se ela não teria saído depois de desligar o telefone. Eu disse onde era o prédio. O taxista recebeu a grana, deu o troco falando que desse ano não passava, ele voltava pra Alagoas, porque o Rio tava violento demais. Boa noite. Boa, eu respondi. Demorei pra conseguir entrar no saguão do prédio. O porteiro tava dormindo e não ouvia o interfone. Boa noite, vou na Letícia. Tirando remela ele me disse que ela tinha acabado de sair. Eu sentei no sofá. Pensei que esperar seria o ideal. Ela tava cheia de mala com a mãe e o irmão dela. Eu levantei do sofá. Fiquei perdido. Sabe pra onde ela foi? Sei não. Ela foi de carro? Foi não, ta na garagem. O senhor é o seu Marcos não é? Sou eu sim. Ô seu Marcos, a quanto tempo o senhor não aparece aqui, lembra de mim não? Sou o Tonho do cavaco. O senhor que curou minha tendinite, lembra não? Lembro sim. Já tem tempo mesmo que não apareço. E enquanto ele falava que ficou com o braço novinho depois dos remédios eu imaginava se ela foi pra casa da mãe. O Recreio era muito longe. Agradeci o Tonho que me deu um abraço quente e fiel. Disse que assim que ela voltasse daria o recado de que eu estive lá. Eu pensei que seria tarde demais. Saí a pé do prédio. fui andando até a praia. Só então reparei que eu tava de chinelo e bermuda no inverno imprevisível do Rio. No calçadão tava um frio danado. Tremi. Não sabia se era pelo frio ou pelo arrependimento. Andei até o posto três. Voltei pra pista, peguei outro taxista fanático por copa do mundo, mas que não acreditava no Brasil. Eu pensava que pra mim não iria fazer diferença se o Brasil perdesse. Eu já tinha perdido uma coisa muito mais importante que um mundial de futebol: ela.
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