sexta-feira, 29 de abril de 2011

Saga.

Andei depressa para não rever meus passos
Por uma noite tão fulgás que eu nem senti
Tão lancinante, que ao olhar pra trás agora
Só me restam devaneios do que um dia eu vivi
Se eu soubesse que o amor é coisa aguda
Que tão brutal percorre início, meio e fim
Destrincha a alma, corta fundo na espinha
Inebria a garganta, fere a quem quiser ferir
Enquanto andava, maldizendo a poesia
Eu contei a história minha pr´uma noite que rompeu
Virou do avesso, e ao chegar a luz do dia
Tropecei em mais um verso sobre o que o tempo esqueceu
E era de gozo, uma mentira, uma bobagem
Senti meu peito, atingido, se inflamar
E fui gostando do sabor daquela coisa
Viciando em cada verso que o amor veio trovar
Mas, de repente, uma farpa meio intrusa
Veio cegar minha emoção de suspirar
Se eu soubesse que o amor é coisa assim
Não pegava, não bebia, não deixava embebedar
E agora andando, encharcado de estrelas
Eu cantei a noite inteira pro meu peito sossegar
Me fiz tão forte quanto o escuro do infinito
E tão frágil quanto o brilho da manhã que eu vi chegar
E nessa Saga venho com pedras e brasa
Venho sorrindo, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer


terça-feira, 26 de abril de 2011

mu dança.

Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer

No presente, a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais

O passado nunca mais.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Prata.




Há um vilarejo ali. Onde areja um vento bom. Da varanda, quem descansa, vê o horizonte deitar no chão. Pra acalmar o coração. Lá o mundo tem razão. Terra de heróis, lares de mães, paraíso se mudou para lá. Por cima das casas, cal. Frutas em qualquer quintal. Peitos fartos, filhos fortes, sonhos semeando o mundo real. Toda gente cabe lá. Lá o tempo espera. Lá é primavera. Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar. Em todas as mesas, pão. Flores enfeitando os caminhos, os vestidos, os destinos e essa canção. Tenha um verdadeiro amor para quando você for.

A saudade que me faz sentir o cheiro da terra que grudava no meu machucado no joelho. Saudade que me faz sentir criança. Na dança do coreto, no sono da varanda, na pedra da cachoeira. Vale muito mais que ouro.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

uma e treze da manhã e eu acordada alerta, acesa, vívida.

Já é tarde e tenho que ir embora pro meu sonho.
Já é sonho e tenho que ir embora pra minha tarde.
Já é meu e tenho que ir tarde pro sonho embora (você não esteja do meu lado).

sábado, 16 de abril de 2011

.

ela não tem que resolver nada.

Menina 1 : Mas vai na aula de canto sim.
Menina 2: Eu vou. Vou pra casa resolver minha vida depois vou pra lá.
Menina 1: Pára com isso. Você não tem que resolver nada.
Menina 2: (...)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

reagendar com três meses aonde tiver vaga.

A humildade que eles tem.
Ensina mais que qualquer livro americano.
francês.
ou italiano.
E olha que nem precisa aprender em livro.
É a vida que desgasta e faz sofrer como eu jamais poderia supor.
Ou um dia poderei, supor assim, sim.
Dezesseis e trinta entra Seu Antônio.
Como o senhor está se sentindo hoje.
Da parte do reumatismo, sem dor.
Vírgula pausada segue no tempo.
o que me incomoda é o tal do diabetes.
me machuca.
E então, ele me machuca.
Pastinha com os exames e as receitas.
Porque é muito remédio, doutora e eu já nem sei mais.
Inchava pulso, aqui, aqui também ó e na junta do joelho, mas essa só do lado de cá.
Ele é normo excretor uricêmico.
Gota.
Condrocalcinose seria uma hipótese mais fidedigna porque pega punho e cotovelo.
E Seu Antônio quieto. Percebendo.
Ele percebia a vida.
Porque condrocalcionse, ele não sabe o que significa. E vai embora sem perguntar.
Agradece com a cabeça baixa. Arruma os exames na pasta no seu tempo devagar.
Agradece como quem nunca vai estar satisfeito de tanto agradecer.
Como quem tem uma esperança cega e eu nem sei lidar.
Vai embora como quem leva um pedaço da minha vaidade pela porta.
e eu fico sozinha dentro do ar condicionado.
condicionada.

domingo, 10 de abril de 2011

anda vai.

Caminha do meu lado, ao meu lado, pró meu lado, a pedidos, sem pedidos, contra o vento, a favor da maré, desligando motor, voando de aeronave. Porque és meu espelho, meio torto porque também sou torta, mas és meu reflexo inverso vivente e poente. És minha dor, meu erro, minha glória, meu acerto. Caminha comigo pra lida de tamanha luz. Sua alegria me guia entre os calços, as pedras, os montes, os riachos, as geleiras. És mãos no ombro, proteção ativa, ombro passivo, grito manso, enorme euforia. És meu pé, és meu sorriso, és minha índole. E para sempre caminha comigo, porque jamais estarei sozinha debaixo da tua sombra.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

dia-a-dia X passado desesperado X solidão romântica.

Jessica: (séria) Júnior, você viu a paciente hoje lá da espondilite? Ela tinha um tique nervoso muito feio.
Júnior: (sério) É, eu vi. Eu tive medo de rir.
Jessica: (...)

Paciente: Doutora, a perna dá uns formigamento e depois aparece uns caroço. Pode ta transformando em alguma coisa?
Doutora: (irônica) Pode. Pode estar se transformando em asas de cisne.
Paciente: (...)

Pai: A gente tem uma notícia ruim. Não é com ninguém da família, mas é como se fosse.
Filha: (após a notícia chora igual bebê)

Amigo: Obrigado por ter vindo prestigiar. (depois que ela vai embora ele grita de longe, reiterando) Obrigado mesmo.
Amiga:(após um sorriso de gratidão, gritando) Agora é a sua vez.
Amigo: (ri alto e vira de costas, como quem não quisesse vê-la partindo)

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Meu passado apareceu hoje pra mim. Veio correndo, de-ses-pe-ra-do, com um buquê de flores na mão. Eram rosas quando o vi pela primeira vez. Aí logo mandei ele embora. Depois ele apareceu de novo, com uma cara de criança quando perde o pirulito e o buquê era de tulipas carmim. Enxotei ele pra longe. Agora ele ta ajoelhado aqui do meu lado, recitando a poesia que eu mais gosto e o buquê é de margaridas, daquelas brancas com amarelo no meio. Ele está a ponto de me reconquistar.

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Porque solidão a gente aprende sozinho.




segunda-feira, 4 de abril de 2011

que nem se imagina.

"Ê vida, que não se imagina. Dá a volta, cai por baixo, por cima."

Ontem fui surpreendida por uma tempestade no meio da minha calmaria. Devastou-me por inteira. Molhei-me em lágrimas por toda a noite. A madrugada inteira. Conforme iam escorrendo pelo rosto ardiam, queimavam, sofriam mais do que eu por estarem caindo. Nada do que sou eu representa uma tristeza vã. Nada do que jamais fui mostra o que sinto ou vejo, ou reajo. Não sei reagir. Meu corpo se transformou numa coisa inerte. E nem levantar eu levantei. Meus olhos estão fundos e por mais dramática minha linda história real seja não consigo transmiti-la do mesmo jeito. Porque está dentro, lá no fundo, num riacho quente, dentro de mim. Sinto próxima uma labilidade emocional perene. Sinto que estou atada, mãos, pernas, punhos, palavras. Não posso consolar sem ser consolada. Não posso abraçar sem ser abraçada. Não posso sorrir se o que eu mais quero é chorar. E como posso então ir lá e dizer que vai ficar tudo bem quando eu sei que não vai. Quando a gente sabe é muito pior. Ignorar é uma salvação as vezes.
Estou com uma dor de cabeça incapacitante e uma vontade enorme de voar. Porque várias vezes voei com ela. Hoje ela está voando sozinha. E eu não posso fazer nada. Só sentir.