quinta-feira, 28 de maio de 2015

a rainha

De tango em tango a rainha erra o passo. Toda de vermelho, lambuzando no salão pimenta do reino e paixão. Descarta um não, anoitece, bebe uma e esquece. Como quem nunca chorou a esmo, perde e ganha naquelas maquininhas de caça níquel do boteco da esquina. Enche o bolso de moedinhas meladas de cerveja e vinho. Troca os pés pelo caminho procurando encontrar na noite gélida da maresia que escapa do mar um colar de contas novinho em folha pra usar. Encontra caos e confusão em mesas de bar. Olhares tontos enviesados, trocados por quem quiser lhe dar prata falsa, estojos de mel e ouro de luar. Corre, depois de certa hora, um boato de que ela não é qualquer uma, só porque sabe dançar. E a independência se confunde com penar. E a rainha dança, com cabelo na fumaça do cigarro desistindo de ver o tempo, que a esmaga com o clarear. Quando desescurece o dia e já se pode ouvir os ônibus e os carros no ar, ela volta a pé pra casa, cansada de tanto esperar.

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