Procuro meu óculos desesperadamente pela casa, que é pequena, mas não justifica a perda nem a dificuldade da busca.De canto em canto defumo a vista catando migalha e abencoando a luz. São longuinho, tadinho, já ta cansado, mas ele procura enxergando e eu não. Passei a fase de pena dele. Não faz mais que obrigação. Três pulinhos em época de crise custam caro e são facilmente desvalorizados. Embaixo do tapete, na curva do corrimão, na pilha de roupas, almofada suja, almofada limpa, estofo do sofá, pontinha do cabideiro e nada. No vão da fresta do vitrô por onde entra a primeira luzinha da manhã tinha um borrão, fui seca com a mão. A aranha assustou. Tadinha, não está acostumada a ser confundida assim a essa hora da noite. Mas passei da fase de pena da aranha. Não faz mais que obrigação ficar parada ali quieta comendo mosquito. Em tempo de epidemia de dengue, mosquito ta com um valor danado. To numa fase de ter pena da circunstancia errada, de esquecer de valorizar a curva certa do caminho. To com pena de desencontrar na estrada. Pena de desistir da postura certa e do errado que dá sentido na vida. To com pena de perder o vento que bate quando o sininho toca no meio daquela música, daquele abraço, daquele beijo de criança na bochecha que fica vermelha. To com pena de deixar a bochecha pálida. To com pena de perder o céu clarinho na vista nova da manhã. To com pena de não enxergar. E por isso procuro desesperadamente meu óculos. Debaixo da manga da camisa azul masculina vejo uma haste. Não era aranha, nem casca de fruta, eram meus novo olhos pra breguice do amor no que está por vir. E estou desesperadamente acreditando que sim, estou vendo todo o momento certo acontecer.
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