sexta-feira, 17 de abril de 2015

Frio, Verao, o tango, as flores e eu

O Frio bate na porta assim quentinho esperando alguem abrir porque ele vai entrar e trazer um monte de novidade novinha. Sem vergonha nenhuma, ele vai contrair os acentos e as virgulas das conversas. Vai fingir que nao existem tantas pontuacoes quanto sao necessarias para descrever um meado de Outono tao brando. Tao branco. E vai contar de novo a historia que o Verao todinho ja contou, mas ninguem acreditava porque era verao. E vai dizer que a tal moca do conto esqueceu-se de ir embora e vai ficar. Vai ficando igual Primavera que ainda nem chegou mas encarna na pontinha das unhas vermelhas que ela acabou de enfeitar pra colorir o ceu que tava muito azul. O Frio vai entrar pela porta, mesmo sem ninguem abrir, pela frestinha escondida no vao do vao da macaneta, no buraquinho minguado ariado da madeira, no vidro dilatado que abre um fio na janela e quando se ve, ja entrou. E la fora, ninguem mais sabe de choro ou vela, de sopro, de arrepio, de culpa ou dor. Ninguem mais sabe de carta de amor que ta guardada na gaveta, nem de ciume pobre, tadinho, tao pobre, encaixotado na prateleira. O Frio conta a historia de um tango pronto, escrito ha muito tempo por alguem por ai e todo mundo pensava que nao existia. Agora todo mundo acredita. E, inesperadamente, todo mundo danca. Danca tango. E olha que ninguem sabe dancar esse tipo de embalo por ai. Mas, de novo, inesperadamente, todo mundo, eu disse, todo mundo danca. Enquanto o Frio gruda na beirada da parede, debaixo da cortina, no cantinho escuro com os pernilongos as flores crescem no beiral da janela. O Frio, o Verao, o tango, as flores e eu. 

quinta-feira, 16 de abril de 2015

assim

Como voce me faz ser tao melhor assim?

terça-feira, 7 de abril de 2015

eu não faço nada, permaneço.

Enquanto faço nada preencho-me de espaços vazios, de dúvidas, torpores, música e o restinho dos soís que aparecem nesse fim de março na minha janela. Por muitas horas acredito que estou no lugar certo, na hora certa, do jeito certo, plena e intensa de alegria e completude da vida. Essa coisa de criar palavras pra descrever possibilidades. Por outras muitas horas não. Acredito que, arredia, preciso correr daqui porque não é hora, nem lugar, nem desse jeito, nem temperatura de deixar as coisas irem acontecendo assim no gerúndio sem meu controle ou aprovação. Esses momentos de transição da vida são mesmo paradoxais o suficiente pra nos fazer dois. Metade vento, metade pedra. Pedrinha.

Enquanto faço nada penso nisso tudo que me preenche e me divide. E presto atenção no movimento das nuvens na varada de trás, sinto o cheiro da cebola na frigideira lá na cozinha, respiro o ar de quase chuva na beira do paraíba. E espero. Percebo as coisas pequenas. Percebo exatamente de onde vem tudo o que eu sinto. E então vejo que essa extrema e absurda Felicidade dessa vez vem sozinha. Sem nenhuma surpresa escondida no pé dela, ou enroscada atrás da orelha, debaixo dos cabelos ou no fundin dos ói. Ela é tão linda que as vezes se deixa ornar com amigos não muito queridos. Por mim, claro. Por ela ( Miss Felicity) não tem escolha, ela só ama mesmo. Tudin. E como dessa vez ela está sozinha e sem adornos, desses desgostosos, posso vê-la e senti-la por completo. E, oh my God, how she´s beautiful.  Tão linda que nem sei o que fazer.

E chego à conclusão de que, por não saber o que fazer com a Felicidade, eu não faço nada. Permaneço.


(para ser lido ao som de : True Affection, the Blow)
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