Enquanto faço nada preencho-me de
espaços vazios, de dúvidas, torpores, música e o restinho dos soís que aparecem
nesse fim de março na minha janela. Por muitas horas acredito que estou no
lugar certo, na hora certa, do jeito certo, plena e intensa de alegria e
completude da vida. Essa coisa de criar palavras pra descrever possibilidades.
Por outras muitas horas não. Acredito que, arredia, preciso correr daqui porque
não é hora, nem lugar, nem desse jeito, nem temperatura de deixar as coisas
irem acontecendo assim no gerúndio sem meu controle ou aprovação. Esses
momentos de transição da vida são mesmo paradoxais o suficiente pra nos fazer
dois. Metade vento, metade pedra. Pedrinha.
Enquanto faço nada penso nisso
tudo que me preenche e me divide. E presto atenção no movimento das nuvens na
varada de trás, sinto o cheiro da cebola na frigideira lá na cozinha, respiro o
ar de quase chuva na beira do paraíba. E espero. Percebo as coisas pequenas. Percebo
exatamente de onde vem tudo o que eu sinto. E então vejo que essa extrema e
absurda Felicidade dessa vez vem sozinha. Sem nenhuma surpresa escondida no pé
dela, ou enroscada atrás da orelha, debaixo dos cabelos ou no fundin dos ói.
Ela é tão linda que as vezes se deixa ornar com amigos não muito queridos. Por mim,
claro. Por ela ( Miss Felicity) não tem escolha, ela só ama mesmo. Tudin. E
como dessa vez ela está sozinha e sem adornos, desses desgostosos, posso vê-la
e senti-la por completo. E, oh my God, how she´s beautiful. Tão linda que nem sei o que fazer.
E chego à conclusão de que, por
não saber o que fazer com a Felicidade, eu não faço nada. Permaneço.
(para ser lido ao som de : True Affection, the Blow)
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