quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

aquela foto tres por quarto que tiraste pra me dar.

Teria tempo e motivos alternados. Teria janela aberta e ar no cabelo pra ir ate la e juntar tudo logo e ir embora. E encaixotar e guardar no carro, que tambem e um veiculo de transicao, e tchau. Tchau pra dentro. Mas permaneci. Em meio a casa desarrumada que reflete seu coracao cheio de extrassistoles, sentada na mesa cheia de papeis que sao iguais as ruguinhas que tens ao redor dos olhos. E lembro e por lembrar, fico. Os cilios tal qual curvex. As linhas da testa, estradinhas que vao e voltam de sao paulo e sempre me buscam na rodoviaria. As orelhas abertas e pontudas que mostram a trajetoria de voo la no ceu. As maos, que ninguem daria nada por elas, firmes nas minhas e nada mais importa. A barba que permanece impavida quando me ve, sem movimentos bruscos, enruivece e sorri uma boca no meio da conversa. As unhas aparadas (ou seriam roidas? nem o conheco ainda assim tao bem, mas acho que nao). O nariz que pende com a gravidade e discretamente tende mais ao lado direito. Mas ele nao sabe os lados, entao digo: aquele da mao que escreve. E me perco de novo no verde da iris e suas pupilinhas que ficam pequenininhas quando eu chego perto e se expadem o suficiente quando me procuram na multidao das ruas. Os dentes que aparecem furtivamente em meio obturacoes, amarelados desejos e calcio dos quarenta anos acumulados em novos osteoclastos (que sera um dom genetico e uma boa heranca futura). O cheiro de canela, cafe e desodorante vermelho. E suor, muito suor. E agora penso que tenho que abrir o portao e decidir ir logo. E ainda nem escovei o dente. Com uma escova que ate hoje nao entendi de onde saiu, mas ja e minha. E as toalhas que se acumulam num revezamento impar nos varaus, camas, suportes de partitura de viola e encostos de cadeira. E, num placido altar, um hall de entrada com plantas que ficam mais felizes que nos dois quando estao. Simplesmente estao. E, no computador eu nao sei colocar acentos e outras firulas ortograficas, porque encarecido Mac nao me combina, mas funciona muito bem pra ele. e se eu tivesse saudade daquilo que ainda nao veio queria muito prever um futuro em paz, tomando cafe e contando que estou apaixonada. E se o destino permitir, queria muito o futuro tomando cafe com canela na cama e contando que estou apaixonada por ele mesmo. Daqui uns vinte anos. Ou mais. Quando Cecilia e Santiago estiverem pensando em viajar o mundo. O cheiro de manjericao invade. Achuva ja passou. Ta sol no meu rosto. Entendo um pouquinho a cada dia. Entendo porque a cortina da janela fica sempre fechada. E a cada dia que passa acrescento uma qualidade. E retiro um defeito. E juntarei caixas de papelao com saudade e vou agora, antes que seja tarde e ele esteja de volta com sua marcha rapida e aquele pelo pulando solitario da sombracelha direita. 

Um comentário:

Unknown disse...

Haverá sempre um café com canela, duas pimenteiras e um lugar em completa desordem onde se toma banho de mangueira e se bebe cerveja no chuveiro. Esperando por você!