pela janela vejo que aquela nuvem parece com uma baleia, nadando a esmo no céu, ops, no mar mais azul de verão que eu ja vi. E quando foi que eu coloquei uma janela no meu caminho. E quando foi que eu limitei a minha visão. E quando foi que, sem querer, cai de novo no mermo lugar, no mermo jeito torto de sofrer e me deixar levar. Perdi as rédeas da minha vida cavalo de novo. E de novo empaquei. Que burra.
pela janela vejo a mesma nuvem, que agora parece uma cobra enrolada. Tem gente que ia falar que to sendo traída por aí. Eu não. Sei que não to. O caminho torto vai dar um monte de voltas tortas e quem sabe o que vira ne. Muito pouco tempo pra. Pra ficar vendo nuvenzinha bobinha pela janelinha.
quando foi que eu resolvi parar de resolver em mim pra resolver lá fora hein.
verão me leva daqui.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Demência pura
Eu andava cheio de suspeitas, pintaram muitas estórias paranóicas na minha cabeça — com base no real, infelizmente (se fosse demência pura seria mais fácil).
(Caio Fernando Abreu - Carta a Luiz Fernando Emediato)
quinta-feira, 30 de julho de 2015
sexta-feira, 29 de maio de 2015
a incrível procura piegas do amor que veio e nem tinha visto antes ou os três pulinhos
Procuro meu óculos desesperadamente pela casa, que é pequena, mas não justifica a perda nem a dificuldade da busca.De canto em canto defumo a vista catando migalha e abencoando a luz. São longuinho, tadinho, já ta cansado, mas ele procura enxergando e eu não. Passei a fase de pena dele. Não faz mais que obrigação. Três pulinhos em época de crise custam caro e são facilmente desvalorizados. Embaixo do tapete, na curva do corrimão, na pilha de roupas, almofada suja, almofada limpa, estofo do sofá, pontinha do cabideiro e nada. No vão da fresta do vitrô por onde entra a primeira luzinha da manhã tinha um borrão, fui seca com a mão. A aranha assustou. Tadinha, não está acostumada a ser confundida assim a essa hora da noite. Mas passei da fase de pena da aranha. Não faz mais que obrigação ficar parada ali quieta comendo mosquito. Em tempo de epidemia de dengue, mosquito ta com um valor danado. To numa fase de ter pena da circunstancia errada, de esquecer de valorizar a curva certa do caminho. To com pena de desencontrar na estrada. Pena de desistir da postura certa e do errado que dá sentido na vida. To com pena de perder o vento que bate quando o sininho toca no meio daquela música, daquele abraço, daquele beijo de criança na bochecha que fica vermelha. To com pena de deixar a bochecha pálida. To com pena de perder o céu clarinho na vista nova da manhã. To com pena de não enxergar. E por isso procuro desesperadamente meu óculos. Debaixo da manga da camisa azul masculina vejo uma haste. Não era aranha, nem casca de fruta, eram meus novo olhos pra breguice do amor no que está por vir. E estou desesperadamente acreditando que sim, estou vendo todo o momento certo acontecer.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
a rainha
De tango em tango a rainha erra o passo. Toda de vermelho, lambuzando no salão pimenta do reino e paixão. Descarta um não, anoitece, bebe uma e esquece. Como quem nunca chorou a esmo, perde e ganha naquelas maquininhas de caça níquel do boteco da esquina. Enche o bolso de moedinhas meladas de cerveja e vinho. Troca os pés pelo caminho procurando encontrar na noite gélida da maresia que escapa do mar um colar de contas novinho em folha pra usar. Encontra caos e confusão em mesas de bar. Olhares tontos enviesados, trocados por quem quiser lhe dar prata falsa, estojos de mel e ouro de luar. Corre, depois de certa hora, um boato de que ela não é qualquer uma, só porque sabe dançar. E a independência se confunde com penar. E a rainha dança, com cabelo na fumaça do cigarro desistindo de ver o tempo, que a esmaga com o clarear. Quando desescurece o dia e já se pode ouvir os ônibus e os carros no ar, ela volta a pé pra casa, cansada de tanto esperar.
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