Preciso do silencio pra escrever
você. Porque teu barulho em mim ocupa muito ouvido e muito espaço. Buzina alta,
cor forte, plural, brilho de uma careca sem lembranças. E aí eu lembrei que
desenhei você. E nem sabia. Não sabia de nada. Só previ inconsciente-mente. E
se eu falo demais do Rafael é por defesa e comparação. Porque fui
demasiadamente deixada de lado nessa confusão. Sonhei com ele antes e dançava
sem saber. Com você nada disso. Mas no primeiro lasco de palavra fiz arte
pueril no meu caderninho. E aprendi a colocar as palavras no diminutivo
desmerecendo cada ironia. Não ligo. Não ligo porque existe um novo você. Um
novo você na minha vida. Que, por única e plena opção vou aprender a deixar.
Acho mermo que tu só apareceu pra eu aprender a deixar o que eu amo sem dor.
Preciso aprender a ir embora. E é tão difícil. E é um tudo nesses últimos dias.
Tenho muitas pessoas em mim. Aprendo a deixar todas elas. Tenho você em mim e a
única certeza de que vou deixa-lo também. E, masoquisticamente, eu gosto da
ideia.
Quando fico, esvaio. Se vou, vôo.
Quando choro do olho sai meteoro,
vulcão de cada poro, é dor capaz de pegar a via láctea no ar, mas também cabe
dentro do olho de um grilo num manguezal.