quinta-feira, 1 de setembro de 2011

escrevendo espero.

To esperando. E percebi que passo tanto tempo da minha vida esperando. O elevador, então nem se fala. Esperando coisa boa. Coisa ruim também, pra não decepcionar quando a vida decepciona. Pra não surpreender quando tem que. Espero chuva e quando ela vem espero sol. Espero o telefone tocar, pra falar a verdade é o que eu mais espero. Por amor, por responsabilidade, por humanidade ou por pura consciência e só. Espero que tudo fique bem. Espero aquele acorde no meu tom pra eu poder cantar junto. Às vezes ele nunca vem e eu nem abro a boca. Desafino fácil e não gosto de me expor. Aliás, me exponho o tempo todo e fico esperando não expor algum dia. Espero a vida que planejo, mas ela sempre finge que me deixa esperando. Espero a luz voltar quando estamos longe e está aquele temporal. Espero pra poder crescer, não em tamanho, porque já não tem mais jeito. Espero pra crescer por dentro. Espero comentários. Obrigada Maria das Flores por esperar ao contrário. Espero o trem passar. Por aqui fazemos muito isso. Espero olhando quem espera também e é bem divertido. A espera do trem é a única que me distrai sem eu precisar procurar distração. Espero um nascimento. Espero um casamento. Espero porque sou madrinha e casar ainda está longe. Espero as primeiras palavras. Espero o ônibus, que normalmente está lotado. Aí sempre penso porque não fui de carro. Espero o dinheiro que vem pingado todo mês. A quantidade é boa, pingado porque pinga mesmo na conta, nem é maneira de dizer, é ao pé da letra. Espero o dia que meus dedos irão acompanhar a velocidade dos meus pensamentos. E sei que pra isso, espero sentada. Fumando já não espero mais. Porque onde há fumaça já me vou. Onde há fogo já estou. Espero um fundo musical pra minha vida. Principalmente pra aqueles momentos de suspense como : "Dra, vai ter uma cesárea hoje..." Tan Dan.......

Espero resultado. Mesmo que ele não venha. Espero o óbvio, que sempre vem. Espero a dúvida, porque é natural. Me espero sair do banho pra parar de inventar história que não existe. Porque quando eu to no banho faço isso. Já até casei com um africano uma vez. Espero a campainha tocar agora. E ela não toca. Espero o atraso, porque sou fisiologicamente atrasada, apesar de ter nascido à termo. A campainha. Não toca. Espero o latido do cachorro quando eu passo em frente daquele portão vizinho. Espero no silêncio e este permanece, porque eu sei que o cachorro já morreu porque ficou doente dias atrás. Espero o café frio, mas sempre me amargo a boca e a mente quando na surpresa desavisada bibirico nos intervalos da escrita. Espero a rapidez da vida. Espero a gratidão das coisas que se vão. E que eu deixo ir. Porque tem coisa que a gente tem que deixar ir. Espero meu grau aumentar. A miopia é uma eterna espera. E jáme acostumei a esperar. Espero em pé as vezes. Porque as vezes é demais esperar. E a campainha não toca. Porque esperar é uma comodidade. É cômodo se incomodar com a espera, que as vezes é tão curta que dá gosto. Dá gozo.

To esperando

,

a campainha.

Nenhum comentário: