quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Programa de saúde da família.

As vezes danço valsa num salão vazio de chão quadriculado preto e branco brilhante. É noite. Estou sozinha e rodopio feito bailarina de caixinha de música. Se eu fosse um objeto seria uma caixinha de música, me disseram. Levo isso pros sonhos que tenho. E projeto na realidade a harmonia que sinto quando estou rodando com bolhas de sabão. Mas a realidade não aceita meus sorrisos. A realidade é mais dura do que imaginei. É ríspida, não sente à flor da pele como se sente quando se está em valsa . Eu pensei errado todos esses anos. Pensei tão errado que ainda cismo em levar alegria pra onde só tem melancolia. Eu apreendi tão errado que achei que fosse dar certo esse altruísmo todo. Mas não é assim que funciona, simplesmente dar ou não certo. Não é assim objetivo e concreto. A realidade é feita de subjetivos e de abstratos, apesar de eu sempre ter pensado o contrário. Achei que o abstrato era eu e minha valsa. Achei que o concreto fosse o que viria. Entretanto o que veio me trouxe a carga de sensatez que tem a vida, me mostrou que nada é como a gente pensa ou quer que seja e abriu minha caixinha de música de frente pras dores de quem não tem sonho, muito menos valsas, chãos brilhantes ou bailarinas. E essa realidade é abstrata porque tem muitos lados, muitas visões, muitos ângulos e pontos fixos. É subjetivo porque está além de qualquer discussão. Está além do que a política pode ver. Não dá pra entrar e encher os olhos de quem quer que seja com luz, esperança, amor. Isso não existe. A força do material, da posse é muito maior do que a força dos valores que podem ser instituídos em cada esquina, em cada família. Esse é o ideal da caixinha de música. Mas é apenas um ideal. Um ideal concreto.
Falando assim parece que perdi o rumo de tanta coisa que preguei até hoje, sobre sonhos e esse romantismo todo. Eu não perdi. Eu apenas amadureço o que eu chamo de sonho. Traço um novo perfil pra essa coisa de sair por aí oferecendo 'tudo que eu posso pra te ver bem'. Traço um novo perfil pras coisas que eu apreendi errado. Essa análise não é uma desesperança. É uma constatação. Posso ajeitar muitas coisas, tentar fazer ideal uma realidade mutável a todo instante. Tentar massagear e fazer brotar tantas outras caixinhas de música por aí. Posso propagar. Mas não posso sonhar junto. Pelo menos por enquanto tenho que parar de sonhar. Tenho que estar concreta dentro desse abstrato todo. E tenho simplesmente que estar. Pelo menos uma coisa apreendi certo. Ninguém nunca me disse que seria fácil.

Um comentário:

Maria das Flores disse...

Sua fase foi/é a minha desde que entrei pela primeira vez na "minha" escola, logo depois de me formar. E passados 6 anos, pisar no chão ainda dói...

**É a primeira vez que entro no teu blog, adorei!

**Aqui é a Devechi rss!