Descobri que meu teatro é feito da vida que me escapa a cada dia. E eu só guardo na memória o que se vai. transformo-me numa nostálgica e saudosa mulher quase negra que desabrocha nos teus braços. E como essa noite me tive abraçada e contornada porcompleto, sou ainda mais tua e mais atriz deixada pra trás. Ponho tantos desejos à mostra num véu translúcido. Posso até ir pra outros braços e outras bocas, o que jamais aconteceu, mas posso. Só que os teus, sempre teus é daqueles. Daqueles que não largam nem na distância da serra, nem na distância do mar. Nem tão longe quanto os alpes argentinos. E meus dedos, que tremem porque acordo tão elétrica. E os seus porque andas tão fraco. E uso todas as formas de juntar todas as diferenças pra fazer tornar véu um só ser. Incluída nessa vida de migalha, vivo esse teatro amor-dor-pecado-luta-amargo-sonho e me despeço pra sempre, com um enorme pesar, de coisas que me subtraíam enquanto mulher. Deixo pra trás pudor seco. Atraio orgias monumentais. Jogo feito de paixão a cada passo. Passo outras paixões e só quero você. E também me canso de declarar e implorar. Porque sei que o cansaço é travestido de abandono rápido sem nem sentir que se vai. Sei que quando se cansa, se ama menos. E então procuro cansar menos. Porque falemos a verdade, ninguém quer amar pouco. Porque meu teatro é de amor em excesso. Em dobro. Caio num ciclo dialético terrível, neuroléptico. Minha vida é feita de amor em excesso. Mas canso de implorar e amo menos e abandono, mas não quero amar menos, então procuro não cansar, então procuro não amar. Que paradoxo interminável é esse? Que me faz parar. Que afinal amor é esse que não sai pra lá? E só busca seus medos, suas aflições., suas mãos a me acarinhar. Ah, amor, se soubesse a ânsia de te deixar. Se soubesse o quanto morro por te ver partir e não falar. Ah contrária visão que tenho, que de posse te detenho, que de súbito te abandono. Todo dia, todo dia, todo dia.
Dorme comigo toda noite e me abraça. Assim quem sabe, te perco mais, pra melhor te ter nos dias que se seguem. Pra melhor me ter inteira no resto da vida. No teatro, na dor e fim.
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Um comentário:
Nasce, vai crescendo, desaparecendo. Mas fica, marca e desmarca. O teatro é um turbilhão.
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