quarta-feira, 17 de março de 2010

calça de malha preta justa, cachecóis amarelos.

Esse ar frio chegando traz um monte de coisa feliz. E aí fico pensando besteiras encavaladas em poemas rústicos, mensagens de amor, palavras cheias de pompa, cachecóis amarelos esvoaçantes. Vai ter vento frio daqui a pouco entrando pela janela da cozinha apagando o fogo da sopa no fogão. Vai ter vida nova chegando. Rua cheia de espaço vazio. Quarto cheio de casal dormindo. Edredon lavando pra tirar o mofo. Ar condicionado desligado. Vai ter vidro de carro fechado. E aí penso em bobagens que me remetem viagens, descobertas, paz de frio. Tinha uma vez uma rosa desenhada no meu caderno. Um bilhete me dizia que nunca mais eu iria ser tão feliz. Cheiro de camomila em Caxambú. Velhinho jogando botão. Velhinha jogando bingo. A hora mágica da idade divertindo o mundo. Piscina vazia. Trampolim estático. Bate palma de aniversário. Já vi suor de criança saindo fumaça da testa. Porque quente derrete no frio. Uma vez casacos de moletom branco e azul marinho encobriam. Calça de malha preta justa. Magreza e interpretações deliciosamente divertidas. Brincadeira de vai, volta, pula, dança, finge. Finge que finge e aí ta tudo certo. Coisa queimada no chão. Pirulito que transforma em chiclete. Amigo virando amor. Amor virando amigo. Música pra concertar por aí. Melodia que consertava a cabeça. Disciplina. Água salgada que chove e fica quentinha. Quando saía doía de ar frio. Vento no cabelo subindo pra casa. Prova e estudo compulsivo. Tinha esperança descontraída. Tinha unha roída. Queria chegar rápido sempre. Velocidade que não existe contra brisa gelada. Aí ficava tudo parado. Câmera lenta. Tinha muito livro. Pipoca que fazia barulho alto e não tinha microondas. Era panela. Era céu escuro. Escuridão feliz. Alegria contida, que só explodia no sol. Sol esquentava na beiradinha da frestinha da janela. Esquenta só um pouco e depois esfria. Aí no azulejo gelado não tinha mais formiga. As formigas se escondem no inverno.

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